“Mulheres construindo um outro mundo” foi o tema do painel que reuniu, no Fórum Social Mundial em Nairóbi, três laureadas com o prêmio Nobel da Paz – Jodi Williams (1997), Shirin Ebadi (2003) e Wangari Maathai (2004). Para além da mesa composta por ícones dos movimentos sociais, o evento poderia, apenas pelo título, resumir uma das características mais fortes desta edição do evento. No Quênia, o FSM tomou feições femininas.
Pelas ruelas que ligam os estádios e ginásios do Moi International Sport Centre, onde são realizadas as atividades do Fórum, as mulheres são a maioria. Mulheres africanas, em especial, ostentando suas roupas típicas. Os espaços comuns do FSM foram também palco de manifestações femininas, como a que reuniu meninas africanas pelo fim da mutilação genital.
Na programação, um volumoso jornal que reúne as mais de 1200 atividades inscritas no FSM 2007, salta também aos olhos o número de eventos organizados por movimentos de mulheres. Discutem a distribuição de títulos de posse de terra, o financiamento das campanhas de promoção dos direitos da mulher, a feminilização da pobreza. No fim da tarde desta terça-feira (23), a tenda da Via Campesina foi tomada pelas mulheres. Na reunião, homens não eram permitidos.
Nobel
O protagonismo das mulheres explícito em Nairóbi é também um dos temas abordados pelas ilustres palestrantes do painel em uma ação conjunta. Com outras três Nobel da Paz – Rigoberta Menchu, Mairead Corrigan Maguire e Betty Williams -, Jodi, Shirin e Wangari criaram a organização Nobel Women’s Initiative.
A idéia é promover “a paz com justiça e igualdade”, diz o slogan. Mas, como ressaltaram durante o evento em Nairóbi, as mulheres têm papel central nesta tarefa. “Porque as mulheres não são apenas cidadãs elas mesmas, mas tem uma enorme capacidade impactar as gerações futuras, através dos filhos, e mesmo os maridos”, comentou Shirin. Este ano, será a anfitriã do I Encontro Bi-anual de Mulheres Nobel. O tema: a violência contra a mulher no Oriente Médio.
Advogada iraniana, Shirin Ebadi foi premiada com o Nobel pelo seu trabalho na Associação de Apoio aos Direitos das Crianças no Irã. A associação instalou o primeiro serviço telefônico para receber denúncias de violações de direitos no país. Hoje, Shirin dedica-se também ao movimento anti-guerra no Oriente Médio.
Neste tema, conta com a compainha de Jodi. Ativista norte-americana, Jodi Williams recebeu o Nobel por seu trabalho pelo banimento das minas terrestres e hoje está totalmente envolvida com os movimentos. Mostrou-se a mais empolgada com o papel transformador das mulheres. “Queremos usar o prestígio do prêmio Nobel para ajudar outras mulheres ao redor do mundo. Queremos usá-lo porque milhares de mulheres trabalham incansavelmente e em silêncio para mudar o mundo em todos os lugares do planeta. É este trabalho que queremos ressaltar”, afirmou Jodi.
A queniana Wangari Maathai preferiu estender os elogios aos participantes do Fórum como um todo. “O FSM é um extenso movimento para combater as causas que levam tantos a uma vida miserável”, disse. Wangari definiu cada um dos ativistas presentes em Nairóbi como o beija-flor que, diante de um incêndio na floresta, não desiste de tentar apagar o fogo trazendo gotas d’água em seu bico. “Nós não ficamos parados, como os outros animais da flores, mas agimos, como o beija-flor”, ilustrou.
Premiada com o Nobel por seu trabalho na proteção do meio ambiente (ela dirige uma ONG que estimula os cidadãos africanos, especialmente os mais pobres, a plantarem árvores), Wangari pediu o apoio do FSM para “mobilizar a sociedade civil africana”. Segundo ela, só o fortalecimento dos movimentos e organizações sociais pode levar a mudanças no continente. Mudanças que passarão, com certeza, pelas mãos das mulheres.