Photo: Gastão Guedes
No ano em que o FSM encontra-se com a população da Pan-Amazônia, nós mulheres de diferentes partes do mundo, reunidas em Belém, afirmamos a contribuição das mulheres indígenas e das mulheres de todos os povos da floresta como sujeito político que vem enriquecer o feminismo a partir da diversidade cultural de nossas sociedades e conosco fortalecer a luta feminista contra o sistema patriarcal capitalista globalizado.
O mundo hoje assiste a crises que expõem a inviabilidade deste sistema. As crises financeiras, alimentar, climática e energética não são fenômenos isolados, mas representam uma mesma crise do modelo, movido pela superexploração do trabalho e da natureza e pela especulação e financeirização da economia.
Frente a estas crises não nos interessam as respostas paliativas e baseadas ainda na lógica do mercado. Isto somente pode levar a uma sobrevida do mesmo sistema. Precisamos avançar na construção de alternativas. Para a crise climática e energética, negamos a solução por meio dos agrocombustíveis e do mercado de créditos de carbono.
Nós, mulheres feministas, propomos a mudança no modelo de produção e consumo. Para a crise alimentar, afirmamos que os transgênicos não representam uma solução. Nossa proposta é a soberania alimentar e a produção agroecológica. Frente à crise financeira e econômica, somos contra os milhões retirados dos fundos públicos para salvar bancos e empresas. Nós mulheres feministas reivindicamos proteção ao trabalho e direito à renda digna.
Não podemos aceitar que as tentativas de manutenção desse sistema sejam feitas à custa de nós mulheres. As demissões em massa, o corte de gastos públicos nas áreas sociais e a reafirmação desse modelo produtivo afeta diretamente nossas vidas à medida que aumenta o trabalho de reprodução e de sustentabilidade da vida.
Para impor seu domínio no mundo, o sistema recorre à militarização e ao armamentismo; inventa confrontações genocidas que fazem das mulheres botim de guerra e sujeitam seus corpos à violência sexual como arma de guerra contra as mulheres no conflito armado. Expulsa populações e as obriga a viver como refugiadas políticas; deixa na impunidade a violência contra as mulheres, o feminicídio e outros crimes contra a humanidade, que se sucedem cotidianamente nos contextos de conflitos armados.
Nós feministas propomos transformações profundas e radicais das relações entre os seres humanos e com a natureza, o fim da lesbofobia, do patriarcado heteronormativo e racista. Exigimos o fim do controle sobre nossos corpos e sexualidade. Reivindicamos o direito a decidir com liberdade sobre nossas vidas e territórios que habitamos. Queremos que a reprodução da sociedade não se faça a partir da superexploração das mulheres.
No encontro das nossas forças, nós nos solidarizamos com as mulheres das regiões de conflitos armados e de guerra. Juntamos nossas vozes às das companheiras do Haiti e rechaçamos a violência praticada pelas forças militares de ocupação. Nossa solidariedade às colombianas, congolesas e tantas outras que resistem cotidianamente à violência de grupos militares e das milícias envolvidas nos conflitos em seus países. Nossa solidariedade com as iraquianas que enfrentam a violência da ocupação militar norte-americana. Nesse momento em especial nós nos solidarizamos com as mulheres palestinas que estão na Faixa de Gaza, sob ataque militar de Israel. E nos somamos a todas que lutam pelo fim da guerra no Oriente Médio.
Na paz e na guerra nos solidarizamos às mulheres vitimas de violência patriarcal e racista contra mulheres negras e jovens.
De igual maneira, manifestamos nosso apoio e solidariedade a cada uma das companheiras que estão em lutas de resistência contra as barragens, as madereiras, mineradoras e os megaprojetos na Amazônia e outras partes do mundo, e que estão sendo perseguidas por sua oposição legítima à exploração. Nós somamos às lutas pelo direito à água. Nós nos solidarizamos a todas as mulheres criminalizadas pela prática do aborto ou por defenderem este direito. Nós reforçamos nosso compromisso e convergimos nossas ações para resistir à ofensiva fundamentalista e conservadora, e garantir que todas as mulheres que precisem tenham direito ao aborto legal e seguro.
Nos somamos às lutas por acessibilidade para as mulheres com deficiência e pelo direito de ir e vir e permanecer das mulheres migrantes.
Por nós e por todas estas, seguiremos comprometidas com a construção do movimento feminista como uma força política contra-hegemônica e um instrumento das mulheres para alcançar a transformação de suas vidas e de nossas sociedades, apoiando e fortalecendo a auto-organização das mulheres , o diálogo e articulação das lutas dos movimentos sociais.
Estaremos todas, em todo o mundo, no próximo 8 de março e na Semana de Ação Global 2010, confrontando o sistema patriarcal e capitalista que nos oprime e explora. Nas ruas e em nossas casas, nas florestas e nos campos, no prosseguir de nossas lutas e no cotidiano de nossas vidas, manteremos nossa rebeldia e mobilização. [en]Women’s Assembly Declaration
In the year in which the WSF joins with the population of the Pan-Amazon, we, women from different parts of the world gathered in Belém, reaffirm the contribution of indigenous women and women from all forest peoples as political subjects that enriches feminism in the framework of the cultural diversity of our societies and strengthens the feminist struggle against the patriarchal capitalist global system.
The world is currently experiencing various crises that demonstrate that this system is not viable. Financial, food, climate and energetic crises are not isolated phenomena, but represent a crisis of the model itself, driven by the super exploitation of work and the environment, and financial speculation of the economy.
We are not interested in palliative answers based on market logic in response to these crises; this can only lead to perpetuation of the same system. We need to advance in the construction of alternatives. We are against the use of agro-fuels and carbon credit markets as ‘solutions’ to the climate and energy crises. We, feminist women, demand a change in the production and consumption model.
In relation to the food crisis, we affirm that transgenic foodstuffs do not represent a solution. Our alternatives are food sovereignty and the development of agro-ecological production.
With respect to the financial and economic crisis, we are against the withdrawal of millions from public funds to rescue banks and businesses. We, feminist women, demand employment protection and the right to a decent income.
We cannot accept that attempts to maintain this system are made at the expense of women. The mass layoffs, cuts in public spending in social fields, and reaffirmation of this production model increase the work involved in reproduction and sustainability of life, and thus directly affect our lives as women.
To impose its domain worldwide, the system resorts to militarization and arms; genocidal confrontations are fabricated that reduce women to spoils of war and use sexual violence as a weapon of war in armed conflict. Entire populations are forcibly displaced, forcing them to live as political refugees. Violence against women, feminicide and other crimes against humanity are committed on a daily basis in armed conflicts, while perpetrators enjoy total impunity.
We, feminist women, propose radical and profound changes in relations among human beings and with the environment, the end of lesbophobia, of hetero-normative and racist patriarchy.
We demand the end of control over our bodies and sexuality. We claim the right to make free decisions in relation to our lives and the territories we inhabit. We are against the reproduction of society through the super-exploitation of women.
We express our solidarity with women in regions of armed conflict and war. We add our voices to those of our sisters in Haiti and reject the violence perpetrated by the military occupation forces. We support the Colombian, Congolese and countless other women who resist – on a daily basis – the violence of military and militia groups in conflict in their countries. We stand together with Iraqi women facing the violence of the US military occupation.
At this current time, we express our particular solidarity with Palestinian women in the Gaza Strip under military attack from Israel, and we join the struggles for the end of war in the Middle East.
In peace, as in war, we support the victims of patriarchal and racist violence against black and youth women.
Equally, we express our support and solidarity to all sisters in their resistance struggles against hydroelectric dams, timber and mining companies and mega-projects in the Amazon and around the world, as well as those who are persecuted as a result of their legitimate opposition to this exploitation. We unite with those struggling for the right to water.
We stand with all women criminalized for the practice of abortion and defend this right. We strengthen our commitment and join together in actions to resist fundamentalist and conservative attacks, in order to guarantee that all those women who need to, are entitled to safe and legal abortion.
We support the struggle for accessibility for disabled women and for the right of migrant women to freely “come and go”.
On behalf of all these women, and of ourselves, we continue committed to the construction of the feminist movement as a counter-hegemonic political force and an instrument for women to achieve the transformation of their lives and our societies, by supporting and strengthening the self-organisation of women, dialogue, and networking between social movements’ struggles.
On 8th March and during the Global Week of Action 2010, as women around the world we will unite in our confrontation of the capitalist and patriarchal system that oppresses and exploits us. In the streets and in our homes, in forests and the countryside, in our struggles and the in the spaces of our daily lives, we will maintain our rebellion and mobilisation.
Belém, 1st February 2009 [fr]
Lorsque cette année, le FSM s’unit à la population de la Pan-Amazonie, nous, femmes de différentes parties du monde, réunies à Belém, nous affirmons la contribuition des femmes autochtones et des femmes de tous les peuples de la forêt comme sujet politique qui vient enrichir le féminisme à partir de la diversité culturelle de nos sociétés et avec nous, rendre plus forte la lutte féministe contre le système patriarcal capitaliste globalisé.
Le monde aujourd’hui, assiste à des crises qui montre la non viabilité de ce système. Les crises financières, alimentaire, climatique et energétique ne sont pas des phénomènes isolés, mais représentent une même crise de modèle, mue par la surexploitation du trabail et de la nature et par la spéculation et financiérisation de l’économie.
Face à ces crises, les réponses paliatives basées encore dans la logique du marché ne nous intéressent pas. Ceci ne peut seulement mener qu’à une survie du même système. Nous avons besoin d’avancer dans la construction d’alternatives. Pour la crise climatique et energétique, nous rejetons la solution des agro-combustibles et du marché de crédits de carbones. Nous, femmes feministes, nous proposons le changement du modèle de production et de consommation.
Pour la crise alimentaire, nous afirmons que les transgéniques ne représentent pas une solution. Notre proposition est la souveraineté alimentaire et la production agro-écologique.
Face à la crise financeira et économique, nous sommes contre les millions retirés des fonds publics pour sauver les banques et les entreprises. Nous, femmes féministes, revendiquons la protection au travail et le droit à un revenu digne.
Nous ne pouvons accepter que les tentatives de maintien de ce système soient faites sur notre dos de femmes. Les démissions en masse, la réduction des dépenses publiques dans le social et l’affirmation renouvelé du modèle productif affecte directement nos vies et qu’augmente le travail de reproduction durable de la vie.
Pour imposer son emprise sur le monde, le système recourt à la militarisation et à la course aux armes ; il invente des confrontations génocides qui font des femmes des butins de guerre et il assujeti leurs corps à la violence sexuelle comme arme de guerre dans les conflits armés. Il expulse les populations et les oblige à vivre comme réfugiées politiques ; il laisse dans l’impunité la violence contre les femmes, le féminicide et d’autres crimes contre l’humanité qui se succèdent quotidiennement dans le contexte des conflits armés.
Nous féministes, proposons des transformations profondes et radicales des relations entre les êtres humains et avec la nature, la fin de la lesbophobie, du patriarcat heteronormatif et raciste.
Nous exigeons la fin du controle sur nos corpos et sexualité. Nous revendiquons le droit de decider en liberté sur nos vies et les territoires que nous habitons. Nous voulons que la reproduction de la societé ne se fasse pas à partir de la super-exploitation des femmes.
Dans la rencontre de nos forces, nous nous solidarisons avec les femmes des régions des conflits armés et en guerre. Nous joignons nos voix à celles de nos compagnes d’ Haiti et nous répudions la violence pratiquée par les forces militaires d’occupation. Notre solidarité aux Colombiennes, Congolaises et tellement d’autres qui résistent tous les jours aux violences des militaires et milices impliqués dans les conflits de leurs pays. Notre solidarité avec les Iraquiennes qui font face à la violence de l’occupation militaire norte-américaine.
Actuellement et spécialement, nous nous solidarisons avec les femmes palestines qui sont dans la Bande de Gaza sous l’attaque militaire d’Israel. Et nous nous joignons à toutes celles qui luttent pour la fin de la guerre au Moyen-Orient.
Dans la paix comme dans la guerre, nous nous solidarisons avec les femmes victimes de la violence patriarcale et raciste contre les femmes noires et contre les jeunes.
De la même manière, nous manifestons notre appui et solidarité à chacune des compagnes qui sont en luttes de résistance contre les barrages, les marchands de bois, les entreprises minératrices et les mégas-projets en Amazonie et autres parties du monde. Elles sont persécutées pour leur opposition légitime à l’exploitation. Nous nous joignons aux luttes pour le droit à l’eau.
Nous nous solidarisons avec toutes les femmes qui sont criminalisées pour pratique de l’avortement ou parce qu’elles défendent ce droit. Nous reforçons notre compromis et convergeons nos actions pour résister à l’offensive fondamentaliste et conservatrice, et pour garantir que toutes les femmes qui en ont besoin aient le droit à l’avortement légal et en sûreté.
Nous nous joignons aux luttes pour l’accès des femmes porteuses de déficiences et pour le droit d’aller et de venir des femmes migrantes.
Pour nous et pour toutes, nous continuerons notre compromis de construir le mouvement féministe comme une force politique contre-hégémonique et comme un instrument des femmes visant la transformation de leurs vies et de nos sociétés, appuyant et renforçant l’auto-organisation des femmes, le dialogue et l’articulation avec les luttes des mouvements sociaux.
Nous serons toutes, dans le monde entier, le 8 mars prochain et durant la Semaine d’Action Globale de 2010, à nous confronter au système patriarcal et capitaliste qui nous opprime et nous exploite. Dans les rues et dans nos maisons, dans les forêts, dans les champs et plantations, dans le cheminement de nos luttes et dans le quotidien de nos vies, nous maintiendrons notre rébellion et mobilisation.