Diálogos pela mídia livre

A construção do Fórum Mundial de Mídia Livre vem contribuindo para aproximar organizações e movimentos sociais dos temas e práticas da comunicação independente. A contribuição brasileira ao FMML é aguardada, tem sido presente e precisa ser construída para a edição 2015, em março, na Tunísia.

Estão na pauta muitos dos temas que preocupam sociedades aqui e fora : a essencialidade do acesso aos meios e aos códigos, a liberdade e diversidade de expressão, a regulação do setor, os princípios para uma internet neutra, a violência contra jornalistas e comunicadores(as), a censura aos assuntos que contrariam poderes e religiões, o uso da mídia para criminalização das lutas, protestos, vozes dissidentes e movimentos sociais. São assuntos que, de tanto se repetirem em diferentes debates e lugares, passaram a figurar na proposta de uma carta mundial da mídia livre, hoje em construção.

O FMML nasceu em 2009 aproximando duas construções do movimento de comunicação. Uma delas vinha dos projetos compartilhados do FSM, em que as mídias alternativas e desenvolvedores de tecnologias livres se reuniam para empreender ações midiáticas coletivas, como um modo de resistência à cobertura das mídias de mercado. Era também um modo de promover novas idéias e conceitos para a comunicação. A prática coletiva se transformou em ambiente de articulações e levou à proposta de um seminário internacional. O outro processo desencadeador foi o FML, o Fórum de Mídia Livre brasileiro, que após um bem sucedido evento nacional no Rio de Janeiro, em 2008, encaminhou-se para uma etapa internacional. Sua agenda ia de políticas públicas de apoio às mídias livres a articulações com mídias e redes parceiras em outros países

Somados, esses moviimentos consolidaram o 1º FMML, que aconteceu um dia antes do Fórum Social Mundial, em janeiro de 2009, em Belém, no Pará. E inspiraram parceiros na África, Europa, América Latina e do Norte a se reunirem para um seminário em Dacar, Senegal, em 2011, que desencadearia o processo permanente do FMML: uma segunda edição durante a Rio+20, em 2012, a terceira na Tunísia, em 2013, além de alguns eventos nacionais e regionais.

A IV edição, novamente na Tunísia, será realizada na sequência de quatro seminários internacionais para o debate da Carta Mundial de Mídia Livre, só em 2014. Dois foram realizados em Porto Alegre (janeiro) e Tunis (junho). Outros dois serão realizados em Paris e Marrakesh (novembro). O próximo FMML terá portanto um sólido aporte sobre o que são hoje as lutas comuns pela mídia livre. Somado a isso, o seminário de Paris lançará uma ferramenta de consulta interativa sobre os conteúdos da Carta Mundial de Mídia Livre, utilizando o sistema noosfero, já experimentado durante a Net Mundial, pelo sistema de consulta do ArenaNet, e que está sendo adaptado à carta por desenvolvedores no Brasil.

De diversas maneiras, a contribuição brasileira ao processo do FMML vem do engajamento de seus e suas ativistas aos diferentes movimentos pela comunicação no país, reafirmando propostas de regulação, de apoio às tecnologias lívres, de respeito à imagem da mulher na mídia, de fortalecimento das mídias públicas, de fomento às mídias livres de modo geral. O que constrói as diferentes frentes e movimentos são os diálogos e as convergências em lutas que vão se tornando comuns. O IV FMML é mais uma de suas expressões.

Na caminhada para Tunis

Um diálogo que desafia o movimento de comunicação é aquele que deve se dar com o restante da sociedade, através das demais frentes de luta social. Sem que a população perceba que a mídia é um meio e não um grande irmão, será difícil desmontar monopólios e enfrentar resistências – que a própria mídia promove – contra a democratização do setor.

Este debate foi proposto aos movimentos e organizações sociais que se mobilizarão, nos próximos meses, para levar suas agendas de lutas locais e globais ao FSM 2015, que ocorrerá em Tunis, entre 24 e 28 de março, começando um ou dois dias depois do início do FMML. A relação entre a comunicação e as lutas sociais está entre os temas propostos para um seminário mais amplo sobre o FSM em São Paulo, no Auditório do Sindicato dos Engenheiros, dias 7 e 8 de novembro. O encontro tratará da participação brasileira nas atividades de Tunis e dos rumos do FSM, tanto mundiais quanto no Brasil.

A última reunião sobre a mobilização para a Tunísia reconheceu que o FSM passou de um período de intensa conexão com as transformações da América Latina para um maior envolvimento com as grandes mobilizações no Norte da África. E há todo um processo de mudança nas relações de poder e nas dinâmicas sociais que tem levado o FSM a um grande debate sobre o seu papel e o seu futuro. O que os movimentos sociais brasileiros querem do FSM é também um tema na ordem do dia.

Além da luta por outra comunicação, entre os temas sugeridos para o debate estão a democracia participativa, de um lado, e a onda de repressão aos protestos e criminalização dos movimentos sociais, não apenas no Brasil. Também será debatido o papel do FSM como veículo da solidariedade internacional. O caso do massacre à Faixa de Gaza, minimizado ou noticiado como conflito entre dois lados, em grande parte da mídia, é exemplo da importância da mobilização mundial, e da promoção de uma mídia livre.

Embora sejam dois processos distintos, o FMML tem construído seu caminho em conjunto com o FSM e deve contribuir para organizar o debate sobre a comunicação a as lutas sociais no seminário de São Paulo. Esta poderá ser uma mesa temática, com intervenções a serem definidas. Por outro lado, o FMML precisará debater também a sua IV edição, ou seja, uma reunião específica sobre o seu processo, e que também está sendo proposta como parte da agenda do seminário.

Por ser em São Paulo, mas referir-se a um processo brasileiro, é importante que o seminário do FSM, além da transmissão online, tenha oportunidades de participação à distância. Por isso, é possível que o a reunião sobre o FMML tenha conexão com participantes de outros estados (existe a proposta de uma conexão com o curso do Núcleo Piratininga de Comunicação, o NPC, no final do dia 7). O programa do seminário do FSM está sendo construido pelas organizações participantes, mas os diálogos internos ao movimento de comunicação e suas frentes de luta, sobre os dois momentos a cargo da mídia livre – a reunião preparatória do FMML e o debate sobre o FSM e a luta pela comunicação, precisam ser feitos já.

Agenda
Diálogos rumo a Tunis 2015

Serviço

Diálogos rumo a Tunis 2015

Dias 7 (a partir das 17h) e 8 de janeiro (a partir das 9h)

Local: Sindicato dos Engenheiros do Estado de S. Paulo

Rua Genebra, 25, Bela Vista, São Paulo, SP.

Informações: fsmbrasil2015@gmail.com

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