A arte como arma de denúncia

Ao chegar na escola superior de engenharia, Bia Barbosa me informou que o paredão branco no fundo do amplo hall de entrada da faculdade era todo meu.

Nelsinho, meu leal companheiro, sempre solidário, me disse tamo junto. Isso porque só pudemos ingressar no campus da Universidade de El Manar (em Túnis, Tunísia), depois das 14h, pois, pela manhã, ocorreu um concurso público nas denpendências da universidade e tínhamos que estar com a exposição montada às 17h30, horário previsto para se encerrar os trabalhos da mesa de abertura do Fórum Mundial de Mídia Livre (FMML).

Eu queria fazer o labirinto, mas, certamente, se tornaria um trambolho, atrapalhando o trânsito dos transeuntes que por ali circulavam em direção às mesas de debates, conferências, seminários. Nelsinho tinha que preparar sua atividade, o Cine Medias Libres, e eu precisava compor, na minha cabeça, outra forma de expor os cartazes com os desenhos de Santiago, Edgar Vasques, Guazelli, Moa, Kayser, Eugenio, Schoreder, Edu, Alex, Canini, Guedar, e os grafites de Mira que foram impressos para compor a exposição Le crayon et le spray comme armes de denontiation – liberte d’expression … Nelsinho foi tratar da sua tarefa e ,nisso, chegou Aline Baker, Stella e …

A gente jogou o véu de noiva vermelho nos 20 metros de arame que Nelsinho tinha esticado do paredão a um dos pilares do local, e passamos a colar os cartazes na metade do paredão. Eu tinha comprado cartolinas, giz de cera, canetões, lápis e borracha, pois, na falta de um labirinto em que as pessoas pudessem caminhar por ele, onde se encontravam os desenhos, então, que elas pudessem interagir, exercer seu direito de liberdade de expressão através do desenho, da escrita, da palavra, das imagens e símbolos.

Dentro do tempo hábil, conseguimos compor uma exposição que antes de sua abertura ja causou impacto. Na abertura, jornalistas de mídias livres e independentes e também de TVs e rádios arabes, ja se colocavam à disposicao para entrevistas e transmissões. Erika Campelo, Bia Barbosa e Mohamed Kadri fizeram a gentileza da tradução do cerimonial, as pessoas interagiram desenhando, escrevendo, denunciando, como o ‘libera a senha’, ja que a mesma estava protegida. No segundo dia, após o debate entre o cartunista marroquino, o jornalista francês e um cartunista brasileiro que se dedica a luta palestina, o cartunista marroquino, ao saber que a exposição era interativa, fez questão de desenhar um muçulmano com o texto em francês “eu nao sou livre”. Afinal, o debate sobre a liberdade de expressão versou muito sobre o atentado ao jornal Charlie Hebdo e o jornalista francês, com uma visão bem eurocêntrica sobre o ocorrido, despertou certa revolta no público, maioria do mundo arabe, que, assim como o cartunista marroquino, entende que a liberdade de expressão nao precisa ter limites, mas deve ter respeito.

Nesse mesmo dia, no período da tarde, um outro cartunista deixou sua participação. Ele se chama Arthur Suzuki, um japa-franco-tunisiano, que fez qustão de denunciar a ação da NSA sobre nossa liberdade de expressão. Eu sou suspeita, eu sei, mas a exposição estava linda, cumprindo sua função. E eu me sinto muito agradecida as pessoas que acreditaram e me confiaram essa missão, em especial, Rita Freire. Acredito que as fotos da abertura falam por si.

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