Educação pode superar a pobreza e a discriminação

Um oásis na África do deserto graças à educação. Foi assim que a professora Aidil de Carvalho Borges definiu seu país, Cabo Verde, na mesa “Pedagogia, regiões metropolitanas e periféricas”, dentro do Fórum Mundial de Educação, que acontece na cidade de Canoas (RS), dentro da programação do Fórum Social Temático. Geógrafa de formação, ela não se conforma com a divisão artificial da África em cinco regiões, nem concorda com os que a veem dividida em duas: uma branca, acima do Saara e outra negra, subsaariana. “Existem muitas Áfricas dentro do nosso continente”, diz a professora, “eu sou do deserto, há pessoas da floresta, das montanhas, mas costumam ver nosso continente como uma única nação e com a imagem de um povo sem esperança”.
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As metas do milênio em educação já foram superadas em Cabo Verde. Pudera! Lá 25% do PIB vão para a educação! A determinação de garantir a sua universalização vem desde a independência (1975), com a total assunção dos custos pelo Estado, a prioridade para mulheres e crianças, fez o país avançar em outros campos também.
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“A educação generalizada faz toda a diferença”, diz Aidil, “incluindo a garantia no acesso especialmente às mulheres, às minorias étnicas, aos menos favorecidos”. Para ela, a educação universal deveria se estender a todo o continente, pois países pobres como a Etiópia destinam apenas 3% dos seus recursos para isso. A educação ambiental é transversal e deve estar incluída, a luta pelo acesso à água potável é uma das urgências.

Mulheres constroem sustentabilidade

Konte Fatoumata, prefeita de Bamako e professora, capital do Mali, também vê na educação e na inclusão das mulheres, as estratégias para que seu pais saia da condição de um dos mais pobres do mundo. Ela acredita que “o desenvolvimento sustentável pode ser construído com a promoção da escola”, e diz que hoje a escola é obrigatória e gratuita, “em cada vila há uma escola”. Ainda persistem hábitos de não levar a escola as crianças do campo, que cedo trabalham.

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Também a participação das mulheres é destacada pela prefeita, que organizou há quinze anos a “Associação pelo Progresso das Mulheres”; elas contam com um veículo “A voz da mulher” que atua entre as diversas etnias que formam a população. O seu partido, que é socialista, tem outro programa que visa a participação das comunidades no próprio desenvolvimento, com a promoção do desenvolvimento local e a promoção da democracia.

A professora Aidil considera necessária a criação de um Marco Referencial para a política ambiental em todo o continente. Além disso, a geógrafa chama a atenção para a necessidade dos africanos olharem menos para fora. “É uma afronta mendigar junto aos que os escravizaram e trataram como animais”, desabafa. “Os africanos desesperados não se metem pelo continente adentro em busca de uma vida melhor, buscam a Europa”. A professora critica também a comunicação, que antes de ir de país para país no continente, passa pelos antigos colonizadores. “Não sabemos o que se passa no continente, é urgente e necessário a criação de uma rede para ligação dos 54 Estados e territórios africanos, um dos maiores desafios para os próximos tempos”.

Construindo utopias

Seja na África, na Europa ou no Brasil, as mulheres constituem a maioria invisível dos educadores, formais e informais. “Nas escolas, somos maioria, na direção das escolas, somos minoria. Por quê?”, questiona Leslie Campaner de Toledo, da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), de Portugal. Ela defende a sustentabilidade do planeta com a perspectiva de gênero, “sem as mulheres não há desenvolvimento sustentável”. Leslie nos contou uma experiência que viveu em Valência, na Espanha, da organização do movimento feminista para atuar no orçamento participativo. “As mulheres organizaram-se para buscar espaço nesse processo e para que houvesse prioridade para as crianças; houve uma compreensão da importância da participação para a transformação real nas escolas”.
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Atualmente residindo no Rio Grande do Sul, ela critica a construção dos espaços metropolitanos determinada pelos carros, “que são os protagonistas, não as pessoas, gerando poluição e isolamento. As cidades crescem artificialmente, as escolas e postos de saúde não correspondem”. Leslie destaca outras contradições geradas pela existência de bairros luxuosos, em espaços separados, onde há desperdício de água, por exemplo, enquanto existem outros espaços ocupados por moradias sem água, com esgoto a céu aberto. Nestes últimos, o trabalho de subsistência realizado é praticamente feito pelas mulheres. Também isto temos em comum com os países africanos, são as mulheres a defender a vida e o futuro, seus cuidados e sua manutenção.

Não por coincidência, as mulheres constituíram esta mesa, defendendo apaixonadamente a educação e a visibilização das mulheres como fatores estratégicos para construirmos um mundo sustentável. Fatoumata acredita na construção de um outro mundo possível. “No mundo globalizado, existem muitas pessoas conscientes, dispostas a mudar”, diz a prefeita africana. Defensora das utopias, Aidil acredita ser fundamental que o debate e a importância da educação chegue aos políticos, Cabo Verde é exemplo disso. “A utopia funciona se acreditarmos e tivermos educação e determinação. Nossas crianças acreditam no futuro e têm esperança!”

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