Mulheres do Alto das Pombas exigem atenção dos governos

Elas aguardaram o encerramento das palestras da mesa sobre “Descolonização do Pensamento na América Latina e África” para, no momento dos debates, pedirem a palavra a uma de suas representantes que leu a carta dirigida ao Fórum Social Mundial mas especialmente voltada a criticar a desatenção dos governos, nas diferentes esferas, para com as demandas históricas das comunidades negradas da Bahia.

O Grupo de Mulheres do Alto das Pombas teve seu origem no final da década de 70, ainda sob a ditadura militar, como um grupo de mães; em março de 1982, tendo em vista as comemorações do Dia Internacional da Mulher, o grupo rompe com esta terminologia e passa a se chamar Grupo de Mulheres do Alto das Pombas. A mudança traz uma simbologia importante nos trabalhos de base das mulheres do meio popular: a separação entre o macro e o micro, o subjetivo e o objetivo, a razão e os sentimentos, a casa e o bairro, o público e o privado.

Nestes 26 anos de existência, o grupo de Mulheres do Alto das Pombas vem assumindo sua missão de lutar por justiça social, contra a discriminação racial e a violência contra a mulher, mantendo sua legitimidade, autonomia e protagonismo diante da comunidade e instituições, entidades, ONGs e movimentos sociais. Nesta trajetória histórica de luta, algumas conquistas de políticas públicas tiveram a participação importante do Grupo: a reabertura da Escola Estadual Nossa Senhora de Fátima (1986), a luta por saneamento e urbanização do Alto das Pombas (1988), a reabertura do posto de saúde (1990), a reforma e implementação do PSF (Programa de Saúde da Família), além do constante debate e intervenção de outros problemas que afligem a comunidade; com destaque para a violência na juventude.

Em 2006, diante da crise do desemprego, o Grupo de Mulheres do Alto das Pombas, dando continuidade ao trabalho de produção para cama, mesa e banho, formula o Projeto “Costurando a África de Mulheres Negras Brasileiras”. O Projeto visa à captação de recursos para o fortalecimento institucional do Grupo de Mulheres do Alto das Pombas, capacitando-as na perspectiva de gênero e raça, além do trabalho com a auto-estima. O projeto ainda estar por via de aprovação e foi importante para o Grupo manter, em 2006, contato com outras mulheres, de outros bairros e outros grupos, para a troca de experiências organizacional. A parceria com o SESC (Serviço Social do Comércio) resultou na capacitação conjunta em artesanato com o Grupo de Mulheres de Marechal Rondon e Gamboa de Baixo, sendo a finalização do curso uma exposição de todos os produtos no Salão do CEAS. A perspectiva da produção e geração de renda, cada vez mais demandada pelo público acompanhado pelo CEAS, traz em si o problema de achar alternativa para a sobrevivência, sem perder de vista a atuação e presença nos grupos populares de base; neste caso, protagonizados por mulheres.

A existência do Grupo de Mulheres do Alto das Pombas, nesta trajetória histórica, ainda é necessária diante da situação social agravada pela desigualdade social, racial e de gênero. Sendo assim, o Grupo de Mulheres vem buscando romper com esta sociedade desigual, desenvolvendo ações estratégicas de Formação, Organização e Geração de Renda na comunidade do Alto das Pombas, que garantam a dignidade e a vida do povo negro.

Link para vídeo:
http://www.wsftv.net/Members/sinhonel/videos/salvador.flv/view