Stela Azevedo – Odé Kayodê – Kolabá

O vento que espalha as folhas, o faz pelos desígnios dos Orixás. O reinado do caçador foi determinado por Xangô, desde o momento que a menina, filha de Odé, foi soprada do bairro da Federação para as cercanias do Cabula, no terreiro do Ilê Axé Opó Afonjá.

Maria Stela de Azevedo Santos, a Ialorixá Stela de Oxosse, foi enfermeira, escritora e uma importante representação das mulheres do Candomblé na Bahia e no Brasil. Tornou-se membro da Academia de Letras da Bahia, além de acumular diversos títulos: Membro Honorário Del Templo Yorubá de Porto Rico, 1993; Medalha Dois de Julho, 1997 e Medalha Maria Quitéria, 1997 – Câmara Municipal de Salvador; Medalha de Ordem ao Mérito da Cultura na Classe Comendador – Presidência da República, 1999; Outorga do título Doutor Honoris Causa/UFBA, 2005; Medalha Zumbi dos Palmares, 2005; Outorga do título Doutor Honoris Causa/UNEB, 2009.

Suas palavras tem valor raro, são “Provérbios”, como intitulou uma das suas obras; porque somente aqueles com longa estrada, leia-se sabedoria, tal como ela, é que podem enunciar os “Provérbios”.

Não são simples frases de efeito, encontráveis em livros de autoajuda, mas observações daqueles cujos passos são de longe e sabem o que tem em cada passagem. No texto “Outono da Vida” mãe Stela cita um dizer da filosofia yorubana, sobre o vigor do espírito no corpo que se encontra na estação das folhas: “Ìbè.rè. àgba bi a ánànò ló ri”, isto é, “mesmo quando o velho curva o corpo, ainda continua de pé”.

Em “Meu Tempo é Agora” se tem a afirmação do valor da ancestralidade. Vou além, pois enxergo um contraponto ao imediatismo presente na sociedade de consumo, em que pessoas são peças produtivas, e não um valor em si. Do outro lado da via, os mais velhos no Candomblé são aqueles cuja voz silenciam a todos, porque no escutar aprendemos mais que na batalha do discurso, que envaidecem e cegam os mais jovens. O valor não é que se pode produzir, é o que se tem na fonte e a sua qualidade.

A visão sobre o sincretismo que mãe Stela de Oxosse possui, é um chamado à assunção da identidade religiosa afro-brasileira do Candomblé, já que sem as amarras formais da escravidão, não há mais motivo para cultuar os elementos da natureza na figura de santos católicos. Ou seja, cada um em seu quadrado, já que Ogum não é branco, para ser reverenciado como Santo Antônio, nem Oxosse é o cavaleiro de armadura medieval, que enfrentou o tal dragão, e sim, é o caçador que traz a alegria, e que matou o grande pássaro, que aterrorizava os moradores do reino de Ifé.

Esta intelectual, destacou-se no cenário internacional ao participar da II e III Conferência Mundial de Tradição dos Orixá e Cultura, em Salvador no ano de 1983 e em Nova Yorque em 1986, respectivamente.

Sobre o Candomblé ela afirma na Coluna Opinião do Jornal Atarde, texto “No Outono da vida”: “O candomblé é considerado uma religião primitiva. Geralmente, isso é dito com um sentido de desvalorização. Contudo, uma religião é tida como primitiva por ser de origem primeira, original, vinda desde os primeiros tempos. Na referida religião, como em muitas outras de procedência oriental, e nas tribos indígenas, o velho é muito valorizado, ele é considerado um sábio, tendo uma condição de destaque e respeito”.

A sacerdote Stela Azevedo foi a prosperidade e alegria do caçador, que Xangô escolheu para reinar no Ilê Axé Opó Afonjá e ser uma referência como mulher preta e de axé.

Okê Arô, Okê Odé!

Imagem: divulgação

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