Começo do ano, alguns se iludem numa espécie de ‘‘reset’’ da vida, como se na mudança dos minutos para um novo dia ou novo ano, as coisas se alterassem radicalmente. São desejos de cada um ou desespero mesmo, que navegam ao lado de uma realidade escrota, cruel, louca e estranha, contudo, continua valendo os votos de um período novo, com melhores condições e quem sabe a derrocada na besta no mar de enxofre fervente, e aqui eu falo do semovente da república.
Ainda em meio aos festejos natalinos do ano que se passou, assistimos o triste feminicídio praticado entre a classe média carioca, em frente a duas crianças. A virada das ‘‘zero’’ hora, não zerará o patriarcado e a cultura do estupro na sociedade brasileira, sobretudo, quando não se tem uma política federal de enfrentamento, e o presidente da república da o ‘‘exemplo’’, ao escarnecer da tortura sofrida pela presidenta Dilma quando presa no período da ditadura.
Infelizmente, casos de morte de mulheres – e tentativas também – das mais variadas formas – esquartejamento, carta-bomba… – já se apresentaram neste novo ano, pelo menos para certos grupos sociais as coisas continuam na mesma, e a palavra de ordem é sobreviver.
O racismo institucional das forças de segurança que mata preto, já deu as caras logo no início desse novo período.
A pandemia continua, o descaso da besta é cada vez mais estarrecedor, como também a cara de pau de pessoas que o apoiam, justificam e minimizam um misto de incompetência, cretinice, canalhice e ruindade. Não se tem no horizonte a perspectiva de vacina para os mais pobres, entre bravatas sobre compra de seringas, negacionismos, campanhas latentes anti-vacina, com direito a efeitos colaterais, que nos levarias a virar ‘‘jacaré’’ – rsss, surtos de uma cantora, que devota aos comunistas a Covid-19 para destruir os cristãos, seguimos esperando a ‘‘chuva no sertão’. Ainda bem, que da mesma terra saiu Chico Cesar.
‘‘A trovoada seca […] na enxurrada a seca’’, assim segue o ‘‘seco’’, e nós nesse período difícil. Ir ‘‘lá em cima pra derramar você [a chuva]’’, as pessoas tentam em seus desejos, orações, energias, mantras…
Uma chuva tal como aquela que traz a alegria ao sertão e deixa a caatinga verdinha, e de quebra leva embora a besta e sua família de zeros em humanidade, cultura, democracia, respeito…
Enquanto isso ‘‘Segue o seco’’.
Imagem: montagem Cirandanet (manifestação RJ, cemitério – imagem Bruno Kelly/Amazônia Real sertão verde)
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