Segundo Jorge Jesus, atualmente técnico equipe do Benfica no futebol português, o tema ‘‘racismo’’ é uma moda, e penso eu, que talvez seja uma daquelas alimentada pelo ativismo, talvez pelo esgotamento de outras pautas, né?
Uma moda que vem de longe, inclusive dentro do futebol. Aqui no Brasil, quando Charles Miller e Oscar Cox trouxeram o futebol das terras inglesas, logo tal esporte se difundiu entre as elites brancas e alcançou as massas populares. Em reação a invasão talentosa dos pretos, as ligas criadas estabeleceram regras bem draconianas aos clubes, tal como anuidades e mensalidades caras e a proibição de pretos como jogadores dos respectivos clubes de futebol.
Ao criar-se no estado do Rio de Janeiro ligas independentes, como a Liga Suburbana de Futebol, pôde-se contrapor o odioso impedimento de pessoas pretas no futebol e evitar humilhações, como a que um jogador preto do Fluminense foi submetido ao ter que passar o pó-de-arroz para poder jogar.
Essa moda o branco Jorge Jesus, em sua miopia racista e falta de empatia, não percebe que está imersa nas estruturas da sociedade ocidental, e em cada lócus a experiência do racismo tem um tempero diferente, mais a essência é a mesma.
Aqui no Brasil o jovem jogador ‘‘branco’’, no ano de 2010, de nome Neymar, afirmou que ‘‘ Nunca [sofreu racismo]. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né?’’, uma doce amostra dos efeitos da democracia racial, que leva as pessoas pretas a não se identificarem com a sua cor, e não enxergarem o racismo a sua volta, na tentativa de embraquecimento. Se Neymar não é preto, branco também não é, precisa encontrar então a sua identidade.
Contudo, a experiência em solo europeu, matriz produtora do racismo mundial, lá de onde o produto sai fresquinho para alimentar a tecnologia de matar pessoas não brancas, fez com que Neymar – ao lado de Mbappé, e tantos outros talentos pretos – descobrir que o seu sucesso, dinheiro, genialidade não apagou a sua cor, tampouco o racismo, que ele finalmente conheceu.
Mais importante que esta descoberta – racismo – foi a postura quilombista de Neymar juntamente com outros jogadores pretos e brancos aliados no rechaço ao árbitro racista no jogo do PSG x Istanbul Basaksehir, quando o árbitro o romeno Sebastian Colţescu proferiu insutos racistas se referindo ao auxiliar técnico camaronês Pierre Webó.
Ali Neymar se viu na cor do irmão e agiu como nossos ancestrais na defesa da dignidade e liberdade das pessoas pretas.
Já o técnico branco português, nem Jesus Salva!
Imagem: Neymar e Mbappé fazem protesto contra o racismo em jogo da Liga dos Campeões – FRANCK FIFE / AFP
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