Mulheres pretas/quilombolas no poder: Dandara, Zeferina, Maria Felipa, Luísa Mahin

‘‘Mas, para Gonçalves, o amor de sua preta Marisa é o suficiente, é a chave da liberdade e a razão de sua felicidade. Eles são o Zumbi e a Dandara daqui do corpo IV da PLB. Na luta para ver seu homem em liberdade, ela tem a mesma força das mulheres negras da nossa história.

Zeferina, Aqualtune e Luíza Mahin, a coragem e a bravura desses personagens femininos se fazem presentes naquela mulher, como também vejo uma lealdade e bravura própria das filhas e filhos de Oyá – creio que seja filha, não sei, mas me parece que sim. Marisa possui uma obstinada vocação para guerrear em favor do seu preto – e de outros pretos também –, que agora está comum sorriso largo e bonito, cujo metal de Ogum o sol mostrava no brilho de sua cor.’’

Este trecho do livro ‘‘Histórias da Casa Verde: Cor, Cárcere e Liberdade’’ ressalta a altivez e protagonismo de mulheres pretas nas lutas em torno dos direitos raciais no Brasil. A postura antirracista se atrela a luta contra outras formas de opressão que redobra sua violência sobre a população preta, e mais ainda no tocante a mulher preta.

Na construção da nossa sociedade brasileira, tivemos diversas mulheres negras de destaque na luta pela liberdade e pelos direitos do nosso povo.

Citemos.

Dandara foi uma das grandes líderes do Quilombo dos Palmares. Esteve à frente de diversas batalhas e ajudou a defender o ajuntamento palmarino. Morreu em 6 de fevereiro de 1694, guerreando pela liberdade do povo quilombola.

Na Bahia, Zeferina foi a líder do Quilombo do Urubu. Negra de origem angolana, com a altivez de uma rainha, na Bahia, Zeferina organizou e liderou a resistência negra. Embora aprisionada em 1826 na sua derradeira batalha, a imortalidade de sua força e resistência ecoa nas matas do Parque São Bartolomeu, local sagrado para o povo de santo da Bahia.

Maria Felipa – a “heroína da Independência” –, foi a mulher preta guerreira que esteve à frente da resistência aos portugueses na Ilha de Itaparica. Foi a responsável pelo incêndio às embarcações portuguesas e pelos ataques com armas e folhas de cansanção contra os soldados, juntamente com um grupo de cerca de 40 mulheres. Ela também organizava o abastecimento das tropas brasileiras que lutavam pela Independência.

Oriunda da tribo Mahi, da nação africana Nagô, Luísa Mahin foi outra figura feminina de destaque no comando de revoltas e levantes na Província da Bahia. Os registros de sua memória – inscritos no poema “Minha Mãe”, como também na sua autobiografia escrita em 1880 –, se devem ao escritor negro Luís Gama, seu filho.

Hoje, um dia decisivo para nossa democracia, tenhamos atenção a nossa ancestralidade e a percepção que em um país de maioria preta e sustentado por mulheres, a figura da mulher preta se impõe nos espaços de poder.

São estes personagens do cotidiano que sustentam uma família quando há aborto paterno, defendem seu povo da violência do estado e que precisa modificar o paradigma de homens brancos que supostamente representam o povo preto.

Nossos olhos precisam delas no poder, assim clama Dandara, Maria Felipa, Zeferina…

Imagem: montagem ciranda.net (Dandara, Zeferina, Maria Felipa, Luisa Mahin)

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