João Alberto não é carne barata do Carrefour

Ontem escrevi parafraseado Lazzo Matumbi, que ‘‘apesar de tanta dor que nos invade, somos nós a alegria da cidade’’, contudo, temos que conter o sorriso por um momento em respeito a um irmão e/ou irmã, e seguir por que muitos pretos e pretas seguiram para que estivéssemos aqui.

Hoje celebramos o dia da consciência negra, e a coluna ‘‘Pedrinha Miudinha’’, neste mês de novembro se dedica a falar sobre personalidades negras, homens e mulheres pretas, entre tantos que contribuem para a cultura desse país, no combate ao racismo, a intolerância religiosa, o machismo e a desigualdade social, com literatura, música, construções acadêmicas, atuações jurídicas, descobertas científicas, militância política e luta social.

Neste texto de hoje de comemoração é também em homenagem a mais uma vítima do racismo existente no Brasil, em que as pessoas brancas e pretas, contaminadas pelo mito da democracia racial, insistem em negara existência, aquelas, sobretudo, para manter os seus privilégios.

Na madrugada do dia 20 de novembro de 2020, deparo-me nas páginas do Instagram com uma cena de espancamento seguido da morte de um homem preto, João Alberto Silveira Freitas, no supermercado Carrefour, na noite do dia 19 de novembro.

Atacado, covardemente, por dois seguranças brancos, um deles, policial militar do estado do Rio Grande do Sul, enquanto uma mulher branca de camarote assistia o assassinato.

Nesta mesma semana, um policial militar do estado da Bahia, agrediu um homem preto, em uma abordagem em Itapuã, na cidade de Salvador. Uma cidade com mais de 80% de pessoas pretas, que elege uma bancada branca para o parlamento municipal e um prefeito descaradamente branco, mas que se declara preto para a justiça eleitoral, enquanto duas mulheres pretas são preteridas, uma delas de histórica militância, a companheira Olívia Santana. Alguma coisa esta errada como meu povo preto soteropolitano.

Voltemos a João Alberto. Estas cenas do cotidiano são ordinária como o sol que nasce a cada dia, a militância e a denúncia constante ofende e incomoda pessoas brancas, porque no fundo elas são responsáveis por estes comportamentos, seja pela omissão ou pela participação ativa em atos racistas.

Em uma aula, no dia de ontem, abordei com alunos a questão do racismo estrutural e percebi uma boa parcela da turma atenta, concordando – ao balançarem positivamente a cabeça, a cada exemplo dado do racismo – e um grupo de três brancos conversando, paralelamente, sobre assuntos alheios ao tema proposto, ao ponto que o ‘‘cochicho’’ deles já estava interferindo em um debate da maioria preta.

A turma tinha pessoas pretas, como disse, que além de discutirem e questionarem conceitos que trouxe, pediram referências para pesquisa. Ali ficou para mim a radiografia do momento que vivemos, no sentido de que pessoas pretas e brancas estão entendendo o que é o racismo no Brasil e se posicionando, e outra parte branca, não empática, pouco se importa com as vidas pretas que adoecem, são encarceradas e morrem neste país.

A militância pedagógica se impõe. Eduquemos e alguma coisa nova surge.
A coluna de hoje é em homenagem a João Alberto Silveira Freitas e a todas as vítimas do racismo no Brasil.

Imagem: montagem Ciranda.net (Imagem Latuff, cartaz)

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Pedrinha Miudinha com Franklim Peixinho

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