É certo que “Maria Nova” não conta nenhuma mentira, porém nada do que relata é um verdade, lá nos “Becos da Memórias”, obra da escritora preta Conceição Evaristo. Porque cada depoimento é um retrato de um favela preta em cada ponto do país, uma realidade de vivência quilombola encontrável nas comunidades pretas das periferias, onde há a “Vó Rita”, que ajuda as mulheres no momento do parto, um solicito e solidário “Bondade”, ou talvez um “Negro Alírio”, defensor dos direitos de seus pares. Há também as mazelas que acompanham as vivências neste espaço, tais como a violência e as condições precárias de sobrevivência das pessoas em condições de vulnerabilidade, do racismo ambiental.
Nos “Poemas da recordação e outros movimentos”, Conceição Evaristo em “Carolina na hora da estrela”, segue a “macabear” Carolina de Jesus com as dores do mundo, em toda riqueza de uma mulher preta, mãe solteira, no meio da comunidade do Canindé. Uma trajetória de escritoras negras que transcendem em estórias e histórias profundas de personagens vivos, que pulsam nas esquinas, botecos, sons de músicas ou paredões de nossos Quilombos Urbanos.
Os “Olhos d’água” enxergam a continuidade de histórias de vida de uma mãe preta, na infância vivida de sua filha. São “Maria” que se assustam com a possível repetição da vida do ex-marido no trajeto do seu filho, embora todos estejam submetidos – pai, mãe, filho, “Maria”, “Bondade” – às mesmas condições anteriores daqueles que vieram antes. Assim, o amor e a luta são o divisor de água, que transgredi também, como menino “Lumbiá” ao se afeiçoar ao menino Jesus na loja.
Pode se dizer que as “Insubmissas lágrimas de mulheres” pretas são personagens que resistem, lutam e enfrentam as adversidades, sem que deixem de sentir dor e ter humanidade, como realidade e direito. Segundo Conceição Evaristo em, “A roda dos não ausentes”, ”Cada pedaço que guardo em mim tem na memória o anelar de outros pedaços.
É quem é “Ponciá Vicêncio”, uma mulher admiradora do arco-iris?
Uma personagem que dialoga com todas as outras mulheres pretas, que sofreram violência racial e outras formas de agressão.
As condições materiais para a construção de uma nova geração tem nas obras literária de Conceição Evaristo, um documento didático para uma educação emancipadora.
Salve a rainha preta da pena e da literatura brasileira!
Imagem: montagem ciranda.net (Conceição Evaristo – Fora do Eixo)
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