‘‘A luta não acabou, e nem acaba aqui’’ como canta Edson Gomes, mas se continuamos lutando é por que quem veio antes abriu trincheiras, recontou histórias apagadas, e afirmou identidades desumanizadas pela branquitude. Se o projeto de branqueamento brasileiro não teve sucesso em matar fisicamente todos os pretos, tal como se deu na Argentina, a opção era eliminar a alma, o axé do povo que veio da costa africana banhada pelo oceano Atlântico.
O Candomblé antes de ser uma religião é uma expressão política de resistência que a tecnologia branca de assassinato não conseguiu eliminar, pois quem pode com o axé? Quem pode com os homens e mulheres pretas dos terreiros da Bahia? O sagrado queima como fogo quem não dissipa, ele se alimenta com o vento, e se mantém eterno com as fagulhas que irradia suas epistemologias para a eternidade.
A imagem imponente de Makota Valdina nos convoca ao um silêncio e reverência a uma autoridade reconhecida no bater dos olhos de qualquer um, e confirmada pelos desígnios do Inkisses. Valdina de Oliveira Pinto era professora, ativista dos Direitos Humanos, tinha o cargo/função de conselheira – Makota – da mãe de santo do terreiro Tanuri Junsara.
As lições de Makota Valdina destacam a obviedade que os contratualistas europeus teorizaram em suas obras, o direito a liberdade, sobretudo, em sua expressão cultural ou liberdade de pensamento. Quando ela diz que ‘‘Não sou descendente de escravos. Eu descendo de seres humanos que foram escravizados’’, implica dizer que o sequestro de pessoas para trabalhos forçados, pode limitar a mobilidade física, mas a fluidez do pensamento não tem barreira que a impeça, a não ser o próprio indivíduo. Nãos somos escravos e nem tivemos uma ancestralidade escrava, algumas pessoas foram condicionadas a se autoaprisionar sem perceber pela aculturação européia.
Não há lei contra a liberdade de pensamento, e a intolerância religiosa é um destes mecanismos falidos que se levantam contra o Candomblé e seus adeptos, por isso “Eu não quero que me tolerem, eu quero que me respeitem o direito de ter minha crença”, assim nos disse Makota Valdina.
Outrossim, sabiamente na lições da grande conselheira do axé, não precisamos do beneplácito da tolerância dos racistas, o que nos pertence independe da concessão de terceiros.
Aprendemos que o Axé se impõe, que a liberdade e a prisão é uma construção individual, pois não há nada mais livre que o pensamento, a prisão e sua desumanização não descende de pessoas, nos foram e são impostas por instituições racistas, e por isso povo de axé, exerça sua fé com coragem, orgulho e altivez.
Agradecemos a Makota Valdina!
Imagem: montagem Ciranda.net (imagem Makota Valdina
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