Lívia Santana Sant’Ana Vaz e o machado de Xangô

A importância de uma mulher preta na sociedade se reflete nos amplos ímpetos de revoluções que ela pode promover pela simples presença, palavra dita e afirmação de uma identidade. Oxum escorreu como rio para contornar a montanha que Xangô havia se tornado, com o objetivo de impedir sua passagem, e assim, o povo preto exercitou o silêncio e estratégia certa de espera, para no momento certo contornar, resistir e seguir.

Resistir para que outros alcancem além da montanha, e derramem o machado em brasa para fazer justiça aos que estão a caminho, e pelos que já passaram.

Por sabedoria ancestral, com cita Silvio Almeida, soubemos calar, para que a máquina racista não nos eliminasse, e fosse eles por ela mesma, os eliminados numa autofagia a la ‘‘o Abaporu’’, em que sentimentos de ódio irracional dêem lugar ao respeito a humanidade de cada corpo. O certo é que o povo preto tá chegando ao poder para proteger os seus, dizer e decidir de acordo com as leis brancas, em regra, e empretecer a estrutura.

A promotora Lívia Santana, jurista preta, mestra em Direito pela Universidade Federal da Bahia, coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação do Ministério Público do Estado da Bahia, é combustível e orgulho para a população preta, pois sua composição no Parquet traz para o debate as pautas raciais, vividas e encarnadas na sua trajetória e de mais 80% pretos soteropolitanos, sem contar o povo que está no interior do estado.

“Recentemente em Salvador, com 13 anos de carreira, teve uma reunião institucional e não vou mencionar nomes para não constranger ninguém. Eu fui com algumas servidoras do MP. Um dos representantes da instituição chegou um pouco atrasado e não pegou o início da reunião. Ele disse que a reunião foi muito boa, mas que, da próxima vez, o MP poderia mandar um promotor. Eu estava na reunião do início ao fim. Ele não imaginava que aquela mulher naquela reunião era uma promotora”.

E não foi uma confusão boba, foi o racismo estrutural entranhado em pessoas brancas e pretas, manifestado por um homem branco e membro deste órgão.

Em sua dissertação de mestrado, a promotora Lívia Vaz, teorizou sobre as políticas de saúde para a população preta. As pessoas pretas adoecem e morrem pelos tratamentos de menoscabo dispensado, mas mesmo assim, com a liderança da Yabá da justiça seguiremos reduzindo danos até sua eliminação.

Esta mulher preta, fiscal da lei, esbanja brilho e intelectualidade na defesa das nossas posições, escudada pelo machado de Xangô, o Deus da justiça.

Assim seguiremos, pelo poder, pela inclusão e pela equidade.

Agrademos a Promotora Lívia Santana Sant’Ana Vaz.

Imagem: montagem Ciranda.net (Livia Vaz , avatar Livia Vaz, Livia capa Mipad, Livia Vaz)

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