A professora Vanda Machado nos conta como Iansã criou a democracia por meio da ‘‘revolução’’ de seus ventos, ao questionar a concentração do poder de Ossain sobre as folhas. Oyá se queixou com Xangô sobre o comportamento de Ossain, que nem sempre atendia aos Orixás, quando estes o procuravam em busca das unssabas sagradas, que eram guardadas por Ossain em uma cabaça, lá no alto de uma árvore.
Realizou-se uma reunião e Ossain continuava irredutível aos apelos dos outros Orixás. Foi aí que Iansã começou a rodopiar e produziu uma ventania tão forte que começou a balançar a cabaça contra o tronco da árvore, até ela rachar e as folhas caírem ao chão, e como se diz em Salvador, ‘‘natoralmente’’, cada Orixá catou a folha que queria, mas o poder, o axé destas continuou com Ossain.
Muitas das camadas opressivas da sociedade somente são alteradas por meio de um processo revolucionário, que pode se dá no contexto democrático, como o que experimentamos em certa medida no Brasil.
A deputada estadual Erica Malunguinho da Silva, eleita pelo Partido Socialismo e Liberdade no estado de São Paulo, é professora, artista plástica, mulher preta, transexual, que representa esta impetuosa atitude de Oyá. Ela ocupa um espaço de extrema importância, por ser a primeira deputada mulher transexual na política brasileira.
Muito se fala de combate ao racismo, mas por vezes a lgbtfobia se apresenta nas vidas de homens e mulheres pretas, quando estes vivem livremente sua orientação sexual e/ou de gênero. A dissertação de mestrado de Tedson Souza no capítulo 3, intitulado ‘‘Um negão desse… Viado! : raça, gênero, sexualidades e tensões na pegação da estação da Lapa’’, discute esta questão: a dupla camada opressiva sobre um homem preto, gay pautada pelo racismo e a lgbtfobia.
Semana passada a página do Instagram @pretitudes postou um vídeo de dois homens pretos se beijando e acendeu a revolta de alguns seguidores, e a posterior debandada de uma galera homofóbica.
Já vai tarde!
Esta suposta perplexidade falso moralista e hipócrita esta presente nas mentalidades de pessoas que se dizem superprogressistas, mas em nada se diferencia da besta que habita o planalto central e o gado que o segue. Sobre esta questão é necessário se debater, expor e educar, principalmente, as novas gerações.
Pretxs amam, tem afeto, sexualidades, e estas pautas estão entrelaçadas e não se excluem.
Érica Malunguinho, mulher preta, transexual é este símbolo de revolução impetuosa dos bons ventos de Oyá sobre o racismo, machismo e lgbtfobia.
Imagem: Erica Mulanguinho
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