“Para que outro mundo seja possível, é preciso reinventar o jornalismo crítico”. Este é o lema do site Ciranda, criado especialmente para acompanhar o Fórum Social Mundial (FSM).
O nome completo é “III Ciranda Internacional da Informação Independente”, o que revela que sua atuação começou há três anos, sempre concomitante com o evento de Porto Alegre. Coerente com os princípios do FSM, a Ciranda é aberta a todos os jornalistas independentes ou alternativos que queiram escrever suas impressões e registrar os acontecimentos do Fórum. Os interessados ganham uma senha e instruções de como inserir livremente suas matérias, que passam apenas por uma revisão gramatical.
Descritivos ou analíticos, engajados ou críticos, curiosos ou bem-humorados, com maior ou menor qualidade literária, os textos do site têm o jeitão multifacetado do Fórum, ou seja, refletem o espírito de “globalização do bem”, ainda que o questionem.
A principal dúvida que paira no ar é quanto à utilidade do encontro. “Mas quem se interessa realmente, além dos 100 mil participantes, dos brasileiros do Rio Grande do Sul e de alguns ‘fiéis’ na Europa?”, pergunta a jornalista Stéphane Fernandez, do Crid (Centre de Recherche et d’Information pour le Développement), em bom francês, já que os artigos são publicados na língua original dos autores. Há textos também em inglês, italiano, espanhol e alemão.
A mesma Stéphane, em seu belo artigo, responde de que servem os “objetivos vazios” que compõem o Fórum, e por que vale à pena falar sobre eles:
“E mesmo se é preciso cavar muito para encontrar rastros dessas ações em uma das grandes mídias, mesmo se as imagens do FSM chegam, em sua grande maioria, recheadas de folclore, chamadas de ‘néo-bobas’ ou nostálgicas e pós-revolucionárias, não importa. Não importa, porque a utopia se constrói todos os dias por essas ações invisíveis. Não importa, porque esses objetivos vazios são os objetivos do futuro, os objetivos da espera. Não importa, porque, de vazio em vazio, esses objetivos vão crescer. E nós estaremos, de novo, falando neles.”
Os arquivos dos “cirandeiros” representam uma boa fonte de informações sobre a enorme diversidade de discussões que aconteceu no Fórum. A mídia comercial não teve tempo e espaço suficientes para tratar de tudo, e nem mesmo os organizadores do Fórum, por mais que se esforcem, conseguem sistematizar e comentar os resultados de tantos eventos simultâneos. Na Ciranda, os artigos e matérias se dividem entre os principais Eixos do FSM:
1. Desenvolvimento democrático e sustentável
2. Princípios e valores, direitos humanos, diversidade e igualdade
3. Mídia, cultura e alternativas à mercantilização e homogeneização
4. Poder político, sociedade civil e democracia
5. Ordem mundial democrática, luta contra a militarização e promoção da paz
Cada Eixo divide-se em subtemas, todos eles apresentados como links para facilitar o acesso direto. Há também análises gerais sobre o Fórum.
Além de ser uma boa opção para quem quer saber mais sobre o FSM e não encontra informações fora dos grandes veículos, o site Ciranda interessa a todos os que apostam em formas alternativas de comunicação e de intercâmbio de conhecimentos.
A única crítica possível é técnica: por ter uma formatação automatizada (o que possibilita a ordenação e apresentação de todos textos), ficaram alguns buracos e espaços vazios no site. Não há vídeos nem charges, embora haja links para essas produções (onde estavam vocês, documentaristas e chargistas?). Na página principal, ícones vazios indicam ilustrações que não foram colocadas.
Probleminhas técnicos. Nada que atrapalhe a riqueza do conteúdo e o potencial da iniciativa. Uma sugestão aos organizadores: transformar a Ciranda em site permanente, sobre todos os temas relevantes (e a relevância fica a cargo dos infinitos possíveis jornalistas) do Brasil e do mundão globalizado afora.
Os amantes da liberdade de expressão e os entusiastas das novas tecnologias aplaudiriam, agradecidos.