Hoje (25) houve o lançamento do V Fórum Social Pan-Amazônico, em
Santarém, PA, que reuniu centenas de pessoas em uma caminhada, desde o
Parque da Cidade até a orla à beira do rio Tapajós. Foram praticamente
duas horas em que cidadãos amazônidas e de outras partes do Brasil e
dos países da região puderam se manifestar por meio da música e de
cartazes, que repudiavam a violência contra a mulher; tratavam da
reivindicação da reforma urbana e que afirmavam a ação dos povos
indígenas em defesa da Mãe Terra, entre outras pautas.
No meio desses cidadãos, estava a quilombola Maria Zenaide Rodrigues,
66 anos, que com suas vestes coloridas e semblante risonho, se
destacou em meio à multidão. ´Meu traje é da minha terra. Esse
colorido representa a Amazônia e a beira do rio`, contou. Segundo a
líder da comunidade do Quilombo de Umaicá, próximo à cidade, estava lá
principalmente para se mobilizar em defesa das mulheres.
´Muitas vezes, somos discriminadas e não temos liberdade. Quando todas
nós nos unimos, por essa causa, nos sentimos felizes e temos um
crescimento especial´, afirmou. A dona de casa, mãe de oito filhos,
ainda destacou a importância da ligação com suas origens. ´Eu sou a
raiz e meus filhos, os galhos, que partiram para o mundo´. E completou
– ´Eu ainda trabalho, faço tapete, bordo e pesco muito. Sou viúva hoje
e nada me para (de seguir meus ideais), só Deus`.
Logo, no início da caminhada, segurando um dos lados da bandeira do
Fórum, estava a jovem indígena Raquel Ester Kampá Pereira, 19 anos,
que também narrou a ânsia pelo respeito aos direitos humanos e por uma
sociedade igualitária. ´O que me motiva estar aqui é mostrar para a
população que nós (indígenas, quilombolas, caboclos…) fazemos parte
do mundo. É um momento para poder gritar e para que ouçam esse grito
por nossa luta´.
Segundo a estudante, ao olhar para os companheiros de caminhada e
observar uma representativa presença de jovens a fez sentir esperança.
´Queremos coisas comuns. Que todos tenham o que comer, possam viver na
terrra sem ter medo de assumir sua identidade. Eu sou índia, apesar de
muitos acharem que não, por causa das roupas e traços´, disse.
Maria e Raquel se uniram a mais manifestantes que entoavam cânticos ou
palavras pela defesa da igualdade ao som da Fanfarra Afro-Amazônica,
na qual, havia em grande parte, jovens quilombolas, que tocavam
músicas alegres e dançantes, contagiando os demais.
Nessa atmosfera, nem o calor intenso do final de tarde, na faixa dos
30 graus, foi capaz de dissuadir os manifestantes. A celebração
mística teve um destaque especial, durante o evento. No início, povos
tradicionais e indígenas fizeram um ritual, em que cada representante
da Pan-Amazônia colocou uma porção d´água em uma cuia, simbolizando a
metáfora sobre a união dos povos. Na fase de encerramento, à noite,
tochas acesas iluminaram o trecho de areia próximo à beira do Tapajós,
como sinal de abertura de caminhos.
O encontro prossegue até o próximo dia 29 de novembro.