Uma política de comunicação desde os povos

O atual modelo de desenvolvimento prioriza o mercado e o lucro privado em detrimento do interesse público e dos direitos humanos fundamentais. Este modelo se pauta por uma concepção de desenvolvimento baseado na idéia de crescimento econômico ilimitado, ignorando que os recursos naturais são limitados. Para manter esse modelo, grandes projetos energéticos e de infra-estrutura são construídos, distantes das lógicas produtivas e culturais que organizam os territórios, provocando a expulsão das populações de suas terras, a contaminação dos trabalhadores e trabalhadoras e o aprofundamento da crise ambiental e das mudanças climáticas.

Vivemos em um momento de grave crise financeira mundial – crise do sistema capitalista -, além das crises climática, de alimentação e de energia. No entanto, a cobertura jornalística (de modo geral) se restringe a uma abordagem extremamente superficial que não revela o pano de fundo que faz mover toda a máquina do Estado na direção do aprofundamento das injustiças: o atual modelo de desenvolvimento.

Para agravar a situação, a maioria dos jornalistas desconsidera a existência de outras formas e modos de desenvolvimento possíveis voltados para a igualdade social e a justiça ambiental. E, por seu lado, as empresas jornalísticas não têm interesse em dar espaço para este debate/questionamento.

Alguns dos casos mais emblemáticos da realidade brasileira, como o Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira e a Hidrelétrica de Itaipu, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, a atuação das transnacionais brasileiras, como a Petrobrás, a Companhia Vale do Rio Doce e a Odebretch (tanto no Brasil como no exterior), a expansão das plantações de cana-de-açúcar para todo o território nacional (especialmente a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica) e o tráfico de pessoas, dentre outros, são reportados pontualmente, como se não tivessem vínculos estruturais uns com os outros e com o plano maior, de ações e estratégias, definido para o País. O que está em jogo é a possibilidade de continuarmos vivendo neste planeta, mas a mídia não contextualiza esta questão em toda a sua complexidade.

A proposta do Seminário Comunicação e Desenvolvimento é aprofundar esta reflexão, de modo que possamos pensar e caminhar para uma política de comunicação voltada para os interesses e as reais necessidades dos povos. Que desenvolvimento é esse? A quem ele beneficia? Qual é a principal proposta do governo brasileiro para a sociedade brasileira e para os povos da América do Sul? Afinal, quais são os interesses em jogo?

É muito comum que os veículos de comunicação se debrucem sobre as conseqüências e resultados deste “jogo”. Mas por que os profissionais de mídia não se atentam mais para as questões de fundo? Qual o verdadeiro papel dos jornalistas na complexa sociedade moderna? Como romper a barreira do pensamento único e visualizar outras possibilidades de atuação como comunicador?

Estas e outras questões deverão ser pensadas e debatidas durante o seminário, com o objetivo de estimular os participantes a compreenderem a atual conjuntura brasileira e mundial e seu papel nela enquanto comunicadores, considerando que a comunicação é uma ferramenta essencial para a construção de uma sociedade justa e igualitária.

Proponentes do Seminário:

Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong)
Ciranda Internacional de Informação Independente
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
Jubileu Sul Brasil
Jubileu Sul Américas
Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais
Rede Brasileira de Justiça Ambiental

Objetivos:

– Promover um aprofundamento da reflexão sobre o atual modelo de desenvolvimento e o papel dos comunicadores/mídia;

– Promover uma articulação dos comunicadores de organizações, redes e movimentos sociais nacionais e regionais;

– Proporcionar a oportunidade dos participantes se capacitarem sobre o tema e proporem formas de dar continuidade ao processo de discussão e à construção de estratégias coletivas;

Formato:

1o Momento: Uma mesa com três debatedores e um mediador – 1h40

1 – Alguém dos movimentos/Ongs para falar sobre “A crise deste modelo”

Marcos Arruda “Políticas Alternativas do Cone Sul (Pacs)/Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais” – 30 minutos

2 – Alguém da mídia para falar sobre “Como a mídia se coloca diante das desigualdades e do aumento da pobreza”

Gilberto Maringoni – historiador, pesquisador do IPEA e professor de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero – 30 minutos

3 – Alguém da comunicação dos movimentos sociais/redes para falar sobre “A comunicação que queremos”

Igor Felippe, da secretaria de comunicação do MST Nacional – 20 minutos

Tânia Pacheco, jornalista e coordenadora do Grupo de Trabalho de Racismo Ambiental da Rede Brasileira de Justiça Ambiental – 20 minutos

Mediador – Alguém que faça comentários, contribuições e amarrações críticas sobre o tema proposto Membro do Intervozes

2o Momento: Plenária de debates – 1h30

3o Momento: Trabalho em grupo – “É possível uma articulação entre os diferentes atores de modo a construir uma comunicação libertária e centrada nas questões sociais?” – 1h00

4o Momento: Socialização das propostas e encaminhamentos – 0h30

Público:

Assessores de comunicação de ONGs, movimentos sociais, populares, redes, jornalistas de veículos independentes, comunitários e/ou comerciais, estudantes de comunicação, interessados

Data e Horário:
Turno 1: 8h30 às 11h30 e Turno 2: 12h às 15h

Duração: 4h40

Nota:

* Declaração Final do Encontro Mulheres em Luta por Soberania Alimentar e Energética, realizado em Belo Horizonte, de 28 a 31 de Agosto de 2008

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