“Crise de civilização” foi o tema de apresentação feita pelo sociólogo franco-brasileiro Michel Löwy durante o Fórum Social Mundial. A atividade promovida por uma série de organizações, entre elas a Attac (Associação pela Tributação das Transações Financeiras para Ajuda aos Cidadãos), ocorreu no dia 31 de janeiro. Durante sua preleção, Löwy defendeu a construção de um novo paradigma civilizatório. “As crises energética, ambiental, financeira têm como raiz comum a irracionalidade do sistema capitalista conduzido pelo conjunto da civilização ocidental moderna. É a mercantilização de tudo o que existe, como diz Immanuel Walerstein (também sociólogo).”
Conforme Löwy, a crise econômica global está no início, e a ecológica é muito grave. “Há grande possibilidade de catástrofes naturais com o aquecimento global. Nossos modelos não estão funcionando.” Ainda de acordo com ele, cientistas afirmam que se o o gelo na Groenlândia começar a derreter, o nível do mar subirá em seis metros e grandes cidades como Rio de Janeiro, Nova York, Amsterdã e Veneza vão ficar submersas. “Possivelmente 60% da humanidade que vive em zonas costeiras ficará embaixo d’água”, alertou.
Além disso, o sistema atual leva à campanha belicista, seja na floresta amazônica, por parte dos “imperadores da soja, madeireiras, reis do gado”, seja à sucessão de guerras coloniais no mundo árabe. “Têm relação profunda a luta pelo fim dessas agressões e por um novo padrão civilizatório.”
Mudança
Diante desse necessário diagnóstico que denota, conforme Löwy, “o pessimismo da razão para que depois se tenha o otimismo da vontade”, é necessário, portanto, avançar. “Temos muito a aprender com nossos irmãos e irmãs indígenas. Precisamos pensar projetos alternativos para o futuro e já está em discussão junto aos movimentos sociais e de esquerda a ideia do socialismo do século XXI, partindo da visão crítica de experiências desastrosas desse sistema no século XX.” Para o sociólogo, o caminho é pensar um modelo novo de socialismo democrático, igualitário e ecológico. “O ecossocialismo implica mudar as relações de produção, mas também transformar as forças produtivas.” Significa, por exemplo, desenvolver novas tecnologias pensando no uso de fontes alternativas de energia e mudar os padrões de consumo, produzindo-se “as verdadeiras necessidades sociais”.
Segundo Löwy, há diversas formas de luta apontando para essa saída. “O FSM é um importante fórum de encontro e troca de experiências. Aqui têm se colocado perspectivas abrangentes e convergentes.”