Rio discute política, cidadania e justiça social

“O Brasil é uma peça-chave no Fórum Social Mundial, o Brasil é expressão da nova cidadania, da nova sociedade civil”, afirmou Cândido Grzyboswki, diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e também integrante do Conselho Internacional do FSM.

Cândido acredita que o diálogo e a troca de idéias são as bases do Fórum, mas ainda há novos desafios a enfrentar pela frente, “o fórum vai evoluir mais, a gente vai começar a formular alternativas de políticas públicas”.

No Dia de Mobilização e Ação Global com mais de 800 eventos em 72 países, no Brasil o Fórum Social Mundial (FSM) 2008 mobilizou neste sábado (26 de janeiro) cerca de 60 eventos espalhados por diversos cantos do país. E no Rio de Janeiro, o Rio Com Vida no Aterro do Flamengo, na zona sul da cidade, reuniu diversos movimentos sociais, artistas, redes e fóruns para discutir política, cultura, direitos humanos, educação, meio ambiente, entre outros temas.

Cerca de dez mil cariocas circularam pelas sete tendas temáticas espalhadas no parque do Flamengo – cada tenda tinha um tema especial como da economia solidária, artes cênicas, audiovisual e a tenda das idéias. Foram 150 organizações e redes representadas na tenda das idéias que tinha como objetivo reunir e compartilhar projetos, campanhas e debates.

Segundo Cândido, o Rio Com Vida está inserido na iniciativa de descentralizar o FSM, pois a idéia é atrair pessoas que não poderiam comparecer se o evento se concentrasse em apenas um lugar. “Havia a reivindicação para enraizar, o Fórum é horizontal na sua forma e horizontal pelo mundo”, disse. “Ao descentralizar a gente tentou concentrar um dia que fosse em torno do Fórum Econômico de Davos”. Por isso, para Cândido, o Dia de Mobilização e Ação Global representa a “mobilização da nascente cidadania planetária que tem muitas caras, vozes, culturas, porque nós somos diversos, nós queremos um outro mundo que não seja homogêneo, um mundo da diversidade, das várias culturas e identidades afirmadas” ressaltou.

Bruno Cattoni, do Movimento Humanos Direitos e também integrante do Comitê Rio para o FSM, o evento no Rio de Janeiro simboliza a pluralidade. Cattoni destaca que apesar da cidade do Rio de Janeiro estar sofrendo com a violência, “o Rio tem muita vida, ele é a cidade brasileira mais solidária, o povo não é violento, o povo é hospitaleiro”.

O teatrólogo Augusto Boal, fundador do Teatro do Oprimido, esteve no Aterro do Flamengo como um dos convidados especiais no evento para falar sobre cidadania. “O primeiro dever do cidadão não é viver em sociedade, é transformar a sociedade, eu não sou cidadão se eu não faço nada para transformar a sociedade. No mundo existem ricos e pobres, opressores e oprimidos, os que mandam e os que obedecem, existem preconceitos de todos os tipos”, disse Boal para um grande público reunido na Tenda das Idéias.

O Circo Baixada, uma das iniciativas presentes no Rio Com Vida, trabalha desde 2002 com crianças e jovens de 7 a 24 anos de oito municípios da Baixada Fluminense. O coordenador geral do projeto, José Candido de Oliveira Boff, o Zeca, explica que o circo social visa integrar adolescentes que vivem nas ruas às suas famílias e desenvolver oficinas de arte circense.

“A gente surgiu em 2002 a partir de uma pesquisa realizada pela rede Rio Criança que apontava que cerca de metade das crianças em situação de rua no Rio de Janeiro vinham da Baixada Fluminense. O circo social desenvolve projetos de arte e educação com essas crianças mas também dentro de uma perspectiva de integração familiar”, disse Zeca.

O Circo Baixada foi instalado no município de Queimados, um dos municípios que apresenta um dos menores índices de desenvolvimento humano (IDH). “A gente trabalha na mobilização social e incidência política, ou seja, propor políticas públicas para as necessidades que a gente observa a partir da nossa intervenção”.

Zeca explica que algumas pontes podem ser construídas entre o imaginário da rua e o imaginário de circo. “Muita gente fala, por exemplo, andar na corda bamba, fazer mágica para sobreviver, essas também são expressões ligadas ao universo do circo. O que a gente observa com crianças que estão em situação de rua, é que elas têm uma mobilidade muito grande, assim como tem o circo. O circo é itinerante por natureza, e a criança de rua tem um movimento, ela está ora no abrigo, ora na rua, ela tem uma oscilação grande entre os diferentes espaços”, apontou o coordenador do projeto. E através das atividades que o circo social promove, como arte e educação é possível desenvolver o potencial, habilidades, e capacidades desses jovens.

O núcleo do Circo Baixada reúne 20 pessoas entre educadores, assistentes sociais e profissionais de circo e atinge diretamente 240 jovens e famílias da Baixada Fluminense. No Brasil, há 22 instituições que trabalham com a iniciativa do circo social e contempla cerca de dez mil jovens.


Por Fabíola Ortiz

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *