Produção compartilhada fortalece novo modelo de comunicação

Diversidade e pluralidade são princípios e características marcantes do processo do Fórum Social Mundial. Com a comunicação produzida em seus espaços não podia ser diferente. Em busca de um novo modelo de produção e difusão do conhecimento, movimentos sociais, produtores independentes, veículos alternativos e comunicadores populares vêm mostrando, a cada nova edição do FSM, como uma outra comunicação também é possível. Para debater os chamados projetos de acolhida da mídia alternativa, que recebe todos os veículos e produtores independentes de conteúdo para uma cobertura plural e diversa das atividades do Fórum, aconteceu, nesta segunda (26), dentro da programação do Fórum Mundial de Mídia Livre, o Seminário de Cobertura Compartilhada.

”Desde o primeiro Fórum, temos conversado para reunir o que temos em comum para construir uma comunicação que não seja regida pelas regras de mercado. Essa experiência transformou o FSM num laboratório da comunicação, não só em termos de cobertura, mas de reflexão sobre experiências que fujam de idéias básicas deste modelo. Uma delas é que a comunicação deve gerar negócios. Outra, é a defesa da competição. Isso contrapomos com a regra da ação compartilhada, profundamente ligada às lutas por transformação social. Se estamos trabalhamos por um outro mundo possível., a ação compartilhada é também para construir outro modelo de comunicação”, explica Rita Freire, da Ciranda.

A Ciranda atua há nove anos no espaço do Fórum Social Mundial como um espaço, na internet, para veiculação das produções e das visões de diferentes movimentos acerca do FSM. Sua ação inspirou projetos semelhantes relacionados a outros formatos, como o audiovisual.

Também depois de diversas experiências pontuais, o FSM 2005 vivenciou a primeira edição do Fórum de TVs, que reuniu vídeos de centenas de produtores independentes e os disponibilizou, via satélite, para emissoras públicas e comunitárias em diversos continentes. Em 2008, quando o encontro centralizado do Fórum foi substituído pelo Dia Global de Ação e Mobilização, entrou no ar a página www.wsf.tv, disponibilizando na rede imagens sobre o que estava acontecendo nos mais diferentes países.

“A televisão ainda é o meio de maior alcance pela população, daí a importância de disputarmos idéias por meio da veiculação desses conteúdos para as emissoras universitárias, comunitárias e educativas. Temos que ser alternativos, mas massivos”, acredita Adriano de Angelis, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, que participa dos projetos de cobertura compartilhada do FSM.

Além da veiculação da informação, os projetos de cobertura compartilhada também trabalham com o objetivo de difundir a própria prática deste novo modelo de comunicação. A partir da experiência de cada comunicador dentro deste novo formato de produção, espera-se a multiplicação da idéia em âmbitos locais e em processos que vão além do FSM. É isso o que está acontecendo, por exemplo, com os jovens do Cepepo – Centro de Estudos e Práticas em Comunicação Popular, de Belém, que há 27 anos trabalha com produção audiovisual de forma colaborativa. Desde julho do ano passado, eles estão se preparando para atuar na cobertura compartilhada do Fórum de TVs.

”Sempre achamos que a experiência do audiovisual estava muito distante das nossas possibilidades. Quando começamos a discutir com negros, indígenas e jovens das comunidades, que começaram a produzir com câmeras nos celulares, vimos que fazer audiovisual é possível para qualquer pessoa”, conta Hilma Bitencourt. “Vimos que poderíamos distribuir os vídeos por site para milhares de pessoas, fortalecendo a comunicação dentro da Amazônia. Criou-se um processo muito importante, em que as pessoas se apropriavam da tecnologia e também conheciam o que é o FSM e como construir outro mundo possível”, relata.

Seis idiomas no ar
Assim como o audiovisual e a comunicação escrita, o formato radiofônico vem crescendo e se multiplicando na cobertura compartilhada do FSM. Este ano, uma antena foi montada pelo Fórum de Rádios no edifício da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará e, via web, a cobertura é veiculada em seis idiomas: português, inglês, espanhol, francês, alemão e holandês. O Fórum de Rádios já articula uma rede de cerca de 500 emissoras em todo o mundo, conectadas através de streaming para escutar o que está acontecendo no FSM.

“É um exercício de convergência para uma ação permanente. Depois do Fórum de Rádios, levamos essa experiência para nossos países, esperando que ela contribua com iniciativas em nível local”, acredita Elvis Mori, que veio do Peru, para quem projetos como este também contribuem na luta contra a repressão sofrida pelas rádios comunitárias. “Acreditamos que a comunicação é um exercício de todos e todas, e não propriedade de um grupo de especialistas. Nós facilitamos esse processo para convergir as experiências para que a comunicação seja democratizada”, explica.

Dialogando com todos os projetos anteriores, também nasceu a idéia do Laboratório de Conhecimentos Livres, que apresenta alternativas de tecnologia – sobretudo o software livre – para contribuir com uma comunicação comunitária e livre de fato. Neste FSM, todos os projetos estarão juntos, tendo como sede a Faculdade de Comunicação da UFPA. Com dezenas de computadores para uso comum, ilhas de edição e estúdios de rádio, é dali que sairá uma visão contra-hegemônica do que acontecerá em Belém.

”A primeira coisa que compartilharemos aqui é a idéia da comunicação como um bem comum, um direito de todos e todas. E num mundo onde os meios de comunicação estão concentrados em poucas mãos e onde, em alguns países, os governos controlam a mídia, é necessário que os meios independentes tenham uma voz cada vez mais forte”, diz Jason Nardi, militante italiano do direito à comunicação e membro da Comissão de Comunicação do Conselho Internacional do FSM.

O Seminário de Comunicação Compartilhada terminou ouvindo dos movimentos indígenas, negro, de mulheres, de jovens uma série de recomendações para a transformação da mídia, e com a proposta de criação de ações compartilhadas que se desenvolvam de forma permanente. Tudo isso para que as sementes plantadas durante o FSM possam dar frutos em cada canto do planeta, sempre.

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