Recursos hídricos, reservas minerais, entre elas produtos estratégicos, como o petróleo, uma flora com gigantescas possibilidades de pesquisa e exploração econômica pelas indústrias de fármacos e estética são o objeto de debate da Semana de Mobilização e Ação global em Belém, Pará, entre os dias 22 a 26 de janeiro.
A discussão abrangeu não só a diversidade de fauna e flora, mas de gentes e modos de se apropriar das riquezas da floresta, o que interessa diretamente à toda a Pan Amazônia (Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana,Guiana Francesa e Suriname).
Entre os debatedores estavam Aluisio Leal, cientista político, Rosa Acevedo, da Associação de Universidades da Amazônia (UNAMAZ) e Guilherme Carvalho, da Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE-PA). Eles destacaram a necessidade de uma integração da periferia para que se possa superar o processo homogeneizante que ora assola o mundo.
Leal traçou um quadro da cena política da região, enfatizando que o continente desponta com uma possibilidade de contraposição ao regime neoliberal. No entanto, sublinhou, boa parte dos países ainda cumpre a agenda das agências multilaterais. Um exemplo sobre o tema são as obras de integração de infra-estrutura para o continente, com vistas a animar as riquezas existentes no continente.
Teve relevo no debate a questão energética, que além de desalojar inúmeras populações consideras tradicionais impacta a médio e longo prazos toda uma realidade de reprodução da vida onde são desenvolvidas. A construção do
complexo hidrelétrico do Madeira em Rondônia por várias vezes esteve como centro de gravidade no seminário. Bem como a agenda para a bacia do Araguaia-Tocantins que visa suprir com energia as empresas do setor de eletro-intensivos, em particular as produtoras de alumínio. No xadrez empresas multinacionais, como a gigante do setor a Alcoa.
Não faltaram observações sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)do governo federal. Uma ressalva coube ao papel central que foi alçado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que desponta
como um fomentador de obras de infra-estrutura dentro e fora do país, numa política desprovida de transparência.
Político de desenvolvimento e desdobramentos que possam ocorrer sobre os territórios quilombolas, indígenas, ribeirinhos e outras modalidades tradicionais constaram da reflexão dos debatedores, que não deixaram de lançar inquietações sobre as políticas experimentadas em países como a Venezuela, Bolívia, Equador, em outros que ousam desafinar o coro de Washington.
*Outros temas – *A Semana de Mobilização e Ação Global em Belém incluiu ainda em sua agenda direitos humanos, culturais e sócias, cultura de paz, colonialismo, gênero, feminismo, migração, mercado e a vida das mulheres,
agricultura familiar, segurança alimentar, movimento estudantil. A semana se encerra com um grande cortejo no dia 26 no centro de Belém, e ações no oeste nos municípios de Altamira, com um ato contra o complexo hidrelétrico de
Belo Monte e no município de Itaituba.
Rogério Almeida é colaborador da rede www.forumcarajas.org.br