Muitas das organizações não-governamentais africanas têm mais relação com o universo dos financiadores internacionais (agências e fundações européias e norte-americanas) do que com a realidade local.
As dificuldades reais da população local causadas pela pobreza, pela fome e pela Aids atraiu a atenção de muitas ONGs transnacionais, que se instalaram aqui junto de seus modelos. E, consequentemente, de seus vícios.
Por exemplo: algumas lideranças são contratadas e recebem altos salários para discutir as questões locais, mas passam mais tempo em viagens pelo mundo para tratar desses problemas do que em atuação nas bases.
De algum jeito o FSM do Quênia tem sido importante para revelar ao mundo essas contradições.
O movimento de jovens que questionou, de forma muito correta, os altos preços das inscrições e da alimentação para os quenianos mostra o quanto. A organização queniana do FSM cobrou caro pelos estandes voltados à alimentação, o que provocou um quase-monopólio para o Hotel Windsor, de padrão alto. Um bife com batatas fritas custa quase 8 dólares, próximo a 20 reais. Para os estrangeiros, que já chegaram até aqui, não é tão assustador. Para os quenianos, segundo Martin Ndungu, participante do evento, um verdadeiro assalto.
Em suma, enquanto os estrangeiros e os ongueiros bem-remunerados do movimento social africano comem seus bifes com fritas, os quenianos se viram com o que podem. Mas discutem um outro mundo possível. O que não é pouco.
Como o FSM nunca passa sem deixar marcas, a troca de experiências desses dias entre lutadores locais e estrangeiros pode vir a ser fundamental para modificar a perspectiva da luta local.