O grupo de 20 a 30 camponeses viajou da região agrícola que habitam no centro do país, para a cidade de Nairobi, na esperança de que o Fórum Social Mundial seja o espaço para conectar-se com os movimentos de luta pela terra fora de seu país. Eles fazem parte do Kenya Squatters Social Movement, que representa seis milhões de pessoas, metade da população queniana, sem direito à terra em que trabalham. Mas se sentem um pouco isolados. “Não sabemos muito bem como são feitas as lutas camponesas em outros lugares”
Andaram pela avenida que circunda o Estádio do Kazarani. onde o FSM se movimenta, quase invisíveis no turbilhão de grupos mais aparatados com bandeiras coloridas e slogans barulhentos. Vieram discretos, nas melhores roupas de passeio, ternos para os homens, vestidos de golas altas para as mulheres. E em pouco tempo se viram dando entrevistas para a imprensa alternativa.
“Viemos das terras que ficam ao pé do Monte Quênia” conta Solomon Maeira, um dos integrantes do grupo. O entorno da montanha mais alta do país, a segunda maior da África, tem terras cultiváveis que foram garantidas aos camponeses mas, depois, tomadas por latifundiários. “E não somos os únicos”, diz Solomon. Onde há áreas de florestas desmatadas no Quênia, há camponeses nessas condições”.
George Kome, coordenador do grupo, diz que é preciso enfrentar uma situação histórica, criada pela colonização inglesa, quando a terra foi desapropriada e vendida para poucos, iniciando o regime de latifúndios que permanece até hoje. A brutalidade dessa época explica a tragédia dos camponeses de hoje, segundo Henry Wasma, outra liderança.
Salomon está preocupado com os programas de assentamento negociados entre governo e parlamento para dar posse da terra às famílias agricultoras. Os mecanismos criados para garantir a propriedade são manipulados por interesses locais que desviam terras e títulos para as mãos privadas novamente. Irene Wanjiku está no movimento pelos seus filhos e irmãos pequenos. Hoje, não tem meio de sustentá-los. Até que cresçam, espera que essa história tenha mudado.
As formas de resistência é que são pouco eficazes. segundo o grupo, daí o interesse em aproveitar a oportunidade do FSM para conversar com pessoas de outros movimentos, como a Via Campesina. Mirian Wanjiku Ndungu ri ao imaginar sua comunidade ocupando uma terra, trabalhando nela e exigindo a reforma agrária, como faz o MST no Brasil. Não é assim que se age no Quênia, como suas risadas deixam saber. O movimento pressiona e reinvindica, esperando que os governos nacional e locais respeitem seus direitos. Mas quer ficar mais forte para cobrá-los.
Foi conversando aqui e ali que o grupo terminou sua jornada de terça-feira no FSM na tenda da Via Campesina, em uma grande roda com ativistas da América Latina e da Ásia. E ali começaram a contar sua história.
“Viemos aqui para abrir os olhos”, diz Solomon.