No Palco 1, povos da Amazônia debatem ameaça representada por grandes projetos

O Fórum Social Mundial começou com uma manhã de eventos distribuídos por três palcos, sendo dois armados na UFPA e o terceiro na UFRA.

As
apresentações das várias entidades tinham como princípios básicos o
respeito à vida e o equilíbrio quanto ao uso de recursos naturais.
A programação que ocorreu no Palco 1, armado na Beira do Rio da UFPA,
foi dividida em três eixos: mudanças climáticas; modelos energéticos;
e soberania e segurança alimentar.

Blanca Chancoso, da “Confederación de Pueblos de la Nacionalidad
Kichwa del Ecuador”, classificou a manifestação da qual participou
como um chamado de atenção ao desequilíbrio ambiental. Ela protestou
contra a extração de riquezas naturais e criticou a expropriação de
territórios de povos indígenas por parte de governos para a exploração
dos mesmos por grandes empresas.

“Há uma política de alguns governos
que pretende desocupar territórios naturais para extrair seus minérios
e recursos. Se não garantirmos esses espaços, amanhã não teremos
água, não teremos como respirar o ar. Não é possível mudar o
comportamento humano se não mudarmos o comportamento das políticas de
estado. Essas preocupações deveriam fazer parte da vida dos
cientistas; a tecnologia deveria ser criada para que haja a vida”,
afirmou Blanca.

Para o povo indígena Assurini, de Tucuruí, os grandes projetos
representam ameaça ao seu modo de vida desde que foi construída a
estrada de ferro . De lá para cá, a interferência do branco e a
construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí foi responsável pela
dizimação quase que total deste povo. Hoje em dia, a aldeia dos
Assurini, localizada no quilômetro 24 da rodovia Transcametá, é lar
de aproximadamente 549 índios. De acordo com Akwapitinga Assurini,
seu povo vem enfrentando a escassez de alimentos. Suas culturas estão
sendo colhidas em menor escala do que em anos anteriores.

Críticas ao suposto progresso gerado pelos grandes projetos foram
feitas pelo Irmão Antônio Soffiantini, que realiza trabalho de base no
município de Açailândia. Segundo ele, as comunidades que moram ao
longo da Estrada de Ferro de Carajás – que liga a Serra dos Carajás,
localizada na região Sudeste do Estado do Pará, ao Porto de Itaqui,
localizado no Estado do Maranhão – vêem a cada dia passar as riquezas
do Brasil e em momento algum isso é revertido para as mesmas. “O nível
de desenvolvimento do povo é muito baixo”, disse. Ele criticou a Vale
do Rio Doce por ser uma empresa que não vem cumprindo a
responsabilidade social ao longo desses anos nos quais é responsável
pela administração da Estrada.

Irmão Antônio alertou para os vários
acidentes, inclusive com mortes, que ocorrem na Estrada. “A Vale, só
nesses dois ou três últimos anos começou a indenizar as famílias”.
Outro ponto de destaque em sua fala é o desaparecimento do fundo de
desenvolvimento que existia na época em que a empresa era estatal. Ao
ser privatizada, este fundo foi encerrado. Então foi criada a Fundação
Vale que decide onde fazer obras sem perguntar ao povo o que ele quer.
“Para nós, justiça é o povo participar das decisoes que tem a ver com
seu desenvolvimento próprio.”

A campanha “Justiça nos Trilhos”, coordenada pelo Irmão Antônio
Soffiantini, teve um seminário realizado às 14h do dia 28 e continuará
sua programção até o dia 31. No dia 29, às 8h30, ocorrerá o seminário
“O conflito entre a Vale e o Meio Ambiente”, na Tenda Panamazônica,
armada na UFRA. No dia 30, às 12h, no pavilhão Eb, sala E6 da UFPA,
ocorrerá o seminário “O conflito entre o povo e a Vale Oficina
Econômica”.

A programação se encerra com o seminário “O conflito entre
o povo e a Vale Oficina Jurídica”, a ser realizado no dia 31, às 8h30,
no pavilhão Eb, sala E3, na UFPA.