Organizada como parte das cerimônias de encerramento do Fórum Social Mundial, a Maratona pelos Direitos Fundamentais não perfazia os 42,195 quilômetros da maratona tradicional, mas teve um significado bem maior.
A linha de largada foi montada em frente à Igreja de Saint John’s, na entrada da segunda maior favela de Nairóbi, Korogocho. Depois do sinal dado pelo várias vezes campeão da São Silvestre, Paul Terga, com uma bandeira do
Quenia, os corredores partiram para percorrer um trajeto delineado para ligar Korogocho ao quase europeu Parque Uhuru, no centro da cidade, passando por várias outras comunidades. Nada no percurso foi novidade para Peter
Maina.
Peter mora em uma favela, como a imensa maioria da população de Nairóbi. Todos os dias, levanta às 5h30 da manhã. Desempregado, vive de vender pelas ruas alguns vegetais e frutas. Caminha cerca de 20 quilômetros por dia para isso. A ausência de transporte público – e também a falta de dinheiro para pagar a tarifa dos matatus (microônibus) – faz com que os moradores da capital queniana lotem as margens das longas estradas poeirentas que ligam os vários cantos da cidade.
Além dos quilômetros caminhados, Peter corre alguns mais. Treina para ser, um dia, atleta profissional. Hoje, acabou representando toda a população favelada de Nairóbi. Foi o primeiro corredor a chegar ao final da Maratona.
Algumas horas depois, Peter andava cercado por amigos em meio às cerca de 10 mil pessoas que assistiam aos shows do encerramento do FSM, no estacionamento do parque Uhuru. Um deles carregava o troféu. Entre a timidez e a simplicidade de quem correu – e venceu – pela segunda
vez uma corrida “oficial”, Peter disse que o que espera é ter um patrocínio para treinar. “Se eu conseguisse apoio seria bom, porque eu estou desempregado”, disse, fazendo menção à idéia de se tornar profissional. Sobre os moradores das comunidades que ele percorreu, afirmou que o que eles precisam é o mesmo que ele. “Nós temos vários talentos, mas ninguém para dar apoio.”
26 de janeiro de 2007 - 00:23