Em busca de novos paradigmas

Graça Cremon

Estamos naquele momento da história em que precisamos ser geniais em nossas proposições para dar um salto qualitativo na existência da espécie humana no planeta Terra. Nossas análises baseadas no discurso econômico, que submete a política aos seus desígnios e desconsidera o código de ética nos leva à extinção da espécie.

Olhando os jornais da semana, as questões que nos são colocadas refletem o momento de barbárie no qual nos encontramos: muitos economistas preocupados em salvar o sistema. Ora, será que a questão que deveríamos nos fazer não seria salvar o sistema ou salvar a humanidade? Vejam os investimentos que estamos fazendo no mercado. Se investíssemos assim para resolvermos os problemas de existência humana, nosso sonho de viver em condições igualitárias estaria garantido. Há muito sabemos que esse modo de produção no qual nos encontramos é insustentável. O próprio planeta, as fontes de energias não renováveis e a divisão social da renda mostram o limite.

A guerra em Gaza, o massacre dos povos ameaçados nas terras amazônicas, a fome, a água, o gás, as chuvas, a seca, nos levam a pensar que, se continuarmos a privilegiar o econômico e não atentarmos para as questões mais estruturais (energéticas e climáticas), se insistirmos nessa miopia burra dos ideólogos defensores do capitalismo, em muito breve, a Terra existirá sem os humanos, como bem observou Leonardo Boff em seu artigo na Carta Capital.

As manchetes dos jornais colocam a crise climática como algo que está por vir. Basta olharmos para fora de nossas janelas que percebemos que tudo mudou. Estamos assustados com o número de relâmpagos que caem sobre a cidade de São Paulo num dia de chuva. Passamos pelas quatro estações em um mesmo dia. As chuvas em Santa Catarina, ventos fortes, isso não fazia parte da história daquele lugar. Sem querer ser fatalista, o cenário que se apresenta não é nada animador. É catastrófico! Por que devo me debruçar sobre como resolver o problema de um sistema que destrói o nosso planeta e constrói uma humanidade onde 80% da população mundial não conseguem ser atendida?

O problema energético e climático inviabiliza o capital. Isso é um fato que não podemos negar e precisamos encarar.
A defesa da diversidade cultural, que vem sendo aniquilada pelo discurso maquiado da globalização deve ser considerada como estratégica na construção do novo homem e da nova mulher do século 21. Sua preservação e difusão são de responsabilidade do Estado, para que seus diferentes modos de vida, suas diferentes culturas sirvam de alicerces para essa construção. Não queremos os tribais nus em redomas de vidro para observá-los como se fossem animais em zoológicos. Entendemos a cultura viva, que interage. Os ribeirinhas também têm direito a internet!

Assistimos a mudanças de paradigmas, vejam o fenômeno de venda e bilheteria do livro e filme chamados Crepúsculo, onde o vampiro sanguinário, que assim o era há 20 anos, hoje se torna vegetariano e pior, ninguém acha isso esquisito. Lotam cinemas, vendem-se livros e revistas e ninguém questiona nada! As palavras significam o que significam. Todo mundo sabe que vampiro bebe sangue! Se o objetivo é criar um ser vegetariano, vão ter que colocar outro nome, não vampiro! Como poderemos usar a expressão: estão me vampirizando!?!

George Orwell em seu fabuloso livro 1984 foi pedagógico ao descrever a criação de uma Novalingua para manter a coesão interna de uma nova sociedade totalitária. O controle se estabelece através de teletelas que funcionam como um eterno Big Brother e da criação de uma nova língua.

O que quero apontar é que mudando os conceitos, mudamos a cultura. Se perdermos a língua, perdemos nossa cultura, o nosso território, perdemos tudo!Mas, por que isso encanta? Por que os humanos de hoje se encantam com os vampiros, quando no passado, todos tinham medo dessas criaturas?

A possibilidade de viver eternamente jovem, belo, saudável é o que seduz! Na forma do deus mercado. Mas, com essa ocupação do planeta?

Vivemos um momento de transição turbulenta. Esse Fórum tem um grande desafio: fomentar ideais planetários! Não se trata de criarmos um Estado Forte, trata-se de nos organizarmos socialmente de forma diferente. Aprendemos com o capitalismo que podemos produzir em grande escala, mas, em detrimento do planeta. Falamos hoje em comércio ético e nunca aprendemos a dividir e distribuir mais humanamente essa produção e seus lucros. Quem precisa de lucro? Para que mesmo o excedente na produção?

A arte e o artista também têm muita responsabilidade e deve ter compromisso com a construção desse imaginário, com os sonhos que povoam as utopias. A arte cria e revela o mundo!
Os participantes do Fórum Social Mundial 2009 têm essa função: fomentar, refletir, promover espaços compartilhados de criação de paradigmas, de novos conceitos. Artistas, ativistas e cidadãos comuns, ribeirinhas, tribais, mestres de maracatus e de toda cultura popular se reúnem anualmente para dar visibilidade às dores do mundo, ao Planeta Terra que grita conosco, humanos!
Assumimos uma atitude invasora com relação à ocupação do nosso planeta, somos verdadeiros extraterrestres roubando o oxigênio, a água, enfim, a vida da Terra como tanto nos ameaçaram os filmes nas décadas de 60 e 70.

Estamos vampirizando o planeta Terra, as culturas populares e a maioria dos seres humanos tornaram-se zumbis de filme B.
Não sabemos por quanto tempo ainda irá agonizar o sistema em que vivemos. Falta pouco para a falência geral dos órgãos. A previsão do número de desabrigados por causa de catástrofes climáticas é assustadora, a crise econômica mundial está jogando na rua milhões de desamparados, sem casa, sem empregos, sem perspectiva!
Sejamos geniais. O tempo é agora!

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