O Fórum Social Mundial acaba hoje tendo um resultado que certamente não está entre as propostas e decisões apontadas por seu comitê organizador: em poucos dias de convivência, seus participantes estavam totalmente envolvidos pela maneira com que foram recebidos pela população de Nairóbi. As chances de ter novas – e verdadeiras – informações sobre a África foram um aprendizado a mais para quem participou deste encontro.
Essa cidade, que tem mais de 2,5 milhões de habitantes e sofre de problemas similares aos das grandes cidades, acolheu a delegação brasileira de uma maneira que surpreendeu muitas pessoas. Além de uma visão preconceituosa e simplista, a desinformação sobre as diferentes realidades acabou gerando a idéia de que a vida em Nairóbi seria absolutamente difícil e perigosa.
Informações como falta de água potável ou risco de encontrar animais perigosos soam hoje como piada ao estilo “Simpsons” – lembram-se do desenho que dizia haver macacos e jacarés nas ruas do Rio de Janeiro? Aliás, interessados(as) em comprar repelente devem entrar em contato, urgente! O estoque que temos seria suficiente para vários safaris na selva africana ou passeios no pantanal mato-grossense.
No lugar da violência contra as mulheres, que certamente existe mas não faz com que as estrangeiras sejam atacadas nas ruas porque não estão vestidas com as roupas locais, presenciamos um movimento feminista queniano que luta ativamente por uma vida digna, mas também por um mundo sem discriminação. Se o serviço de transporte é precário, e é mesmo!, o melhor da história é poder saber o nome e o telefone do motorista da van que vai buscar você todos os dias: o nosso era o pontual e simpático Edwin.
Se a cidade não tem muitos hotéis, oferece a chance absolutamente inigualável de conviver com uma família queniana. Uma das participantes do FSM, Jamile Chequer, teve – acreditem – sua festa de aniversário organizada por Miss Peris, uma das “mamas” que abriu as portas de sua casa para alojar visitantes. Do café da manhã às conversas sobre a cultura local, essa não é uma relação comercial. Ao contrário, nos permite dizer que temos uma família africana.
A idéia de que a comunicação entre as pessoas seria um complicador não se concretizou: a população fala inglês fluentemente, embora se orgulhe de manter diferentes dialetos como segunda língua – seria algo como se no Brasil falássemos português e tupi guarani… É mais uma evidência de que a África é mesmo um continente de resistência. Aliás, o dialeto mais falado em Nairóbi, o swahili, é bastante difícil, mas uma expressão que logo aprendemos é “asante sana”, ou seja: muito obrigada.
Anacris Bittencourt, Iracema Dantas e Jamile Chequer, de Nairóbi [25/1/2007]