Eis o grande dilema da sociedade amazônida: como desenvolver a região a partir de um modelo que rompa com o paradigma da dependência e do atraso. No seminário “Estratégias do Desenvolvimento da Amazônia”, que aconteceu na manhã deste sábado (31), na Universidade Federal do Pará, professores da Instituição apresentaram o modelo de gestão que, historicamente, tem sido implementado na região. Os caminhos futuros precisam ser melhor definidos, mas há uma certeza: as estratégias têm que mudar.
O princípio do debate sobre o tema deve partir de um pressuposto, segundo o professor Gilberto Marques, do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFPA (PPGE): “O termo desenvolvimento não é neutro tem um caráter político e ideológico muito forte”. Dessa forma, há que se perguntar: “Desenvolvimento para que e para quem?”.
Historicamente, o modelo de crescimento econômico aplicado na Amazônia é baseado em demandas externas. Os grandes projetos, os incentivos fiscais, as obras de infraestrutura e outras políticas de fomento, desde a época da Borracha, foram medidas direcionadas para atender às necessidades da burguesia nacional e estrangeira. Ou seja, fez-se da região uma fonte de (preciosas) matérias-primas e um mercado consumidor de grande potencial. E só isso.
Sérgio Bacury, também professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFPA, caracteriza o desenvolvimento na Amazônia como “economicamente, desigual; setorialmente, heterogêneo (indústria mineral, agropecuária e serviços); e, socialmente, excludente”. Comparando o Produto Interno Bruto (PIB) e o PIB per capita produzido pelos Estados e municípios da região, ele verificou que a maioria das localidades que produz riqueza não é a mesma que melhor distribui a renda. O Pará, por exemplo, que possui o maior PIB, não é o que tem maior PIB per capita.
A Amazônia sempre seguiu o padrão brasileiro de dependência externa. E dentro do sistema capitalista, que prima o lucro, pouco se pensou nas consequências econômicas, políticas e sociais que resultariam desse modelo de desenvolvimento.
Romper com essa dependência não é só um desafio, mas também um dilema. Os professores apontaram algumas medidas efetivas, como a verticalização da produção (o beneficiamento das matérias-primas) e a integração dos pequenos produtores ao mercado nacional e global. Mas as mudanças são mais complexas e demoradas, pois envolvem políticas de educação, governos fortes e uma sociedade civil consciente e participativa.
Para o professor Gilberto Marques, há duas maneiras de se pensar o desenvolvimento da Amazônia: “Ou se faz uma crítica à economia capitalista e se propõe um outro modelo de sociedade; ou se discutem alternativas dentro do próprio capitalismo. Mas eu, particularmente, não tenho grandes expectativas de que, dentro do sistema em que vivemos, é possível um desenvolvimento menos desigual. O capitalismo é, ecologicamente, insustentável”, conclui. Texto: Suzana Lopes – Assessoria de Comunicação da UFPA