O agricultor Francisco das Chagas Maia contou como os moradores de Tauá, no sertão do Ceará, descobriram no cultivo do algodão um meio de superar as dificuldades de sobrevivência com a seca. Criada em 1986 pelas mulheres da comunidade, a Associação de Desenvolvimento Educacional e Cultural realizou, em 1991, um diagnóstico, com a partipação da população, que sinalizou as potencialidades da região e a escolha do plantio de algodão de forma a recuperar o solo.
A partir daí, os trabalhadores e trabalhadoras se organizaram de forma consorciada, de modo a multiplicar as técnicas entre as lavouras. As unidades de consórcios trabalham com plantas perenes e culturas conjuntas, técnica desenvolvida com o apoio da Esplar, organização especializada em apoiar pequenos agricultores.
Uma das espécies cultivadas é o neem, planta indiana, cujo óleo é utilizado como defesa natural e o bagaço possui propriedades nutrientes, sendo usado para ração animal. As plantações são feitas em áreas com curvas de níveis, utilizando valetas de retenção e muretas, explica Maia. Segundo ele, a técnica garante a recuperação do solo, evitando seu esgotamento. As culturas diversificadas são empregadas com o mesmo objetivo.
Os consórcios agroecológicos descobriram também como driblar a o bicudo, praga que em 1985 deu fim ao algodão na região. Foi experimentada a plantação em cinco pequenas áreas para identificar o comportamento do bicudo. Então, começaram o plantio em áreas maiores com sementes precoces, para que o algodão produzisse rapidamente antes que o bicudo atacasse.
Hoje, a Associação conta com 150 agricultores envolvidos na produção do algodão, que participam de uma rede de comércio justo e solidário, cuja estreia se deu, em 2004, com a encomenda de uma empresa francesa. Participam também da Justa Trama, cadeia ecológica do algodão solidário, que une a produção realizada pela associação, o beneficiamento do fio e a cooperativa de costura que confecciona peças diversas.
Na quinta-feira, dia 29, a caminho do encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai), Maia comemorava sua participação no Fórum Social Mundial. “É um momento muito importante para a troca e de experiências. Dentro da perspectiva de que um novo mundo é possível, temos que assumir compromissos e esperanças”, ponderou.