A via campesina, concentrada no ginásio Tesourinha, em Porto Alegre, reúne lideranças indígenas, da pastoral da juventude rural, dos pequenos agricultores e da população atingida por barragens. As centenas de trabalhadores rurais, reunidas para o que consideram fórum paralelo ao FSM, é escura e envelhecida, evidência de que os negros constituem a população dos que menos ganham e dos que mais desenvolvem atividades insalubres. Elise, agricultora de Santa Catarina, 28, parece ter 20 anos mais. Ela integra um grupo de 45 mulheres que vieram a Porto Alegre em defesa da semente crioula. Por que essa luta é de mulheres? “Porque somos cidadãs”, ela responde. “Representamos metade da população brasileira e nossos filhos são a outra metade”.
Os participantes desse lado do Fórum dormem amontoados na arquibancada de cimento do ginásio. Muitos não dispõem de colchonete. A saúde dental precária é o indício mais evidente da exclusão social dessas pessoas, daí elas sorrirem com timidez. Apesar disso, todos cantam versos que falam de solidariedade e da união dos povos. E é bonito ouvir o velho índio guarani-kaiuá: “Todo povo tem que ter sua identidade, seu deus e sua língua respeitados”. E o agricultor argentino, usando um crachá onde se lê “cegurança”: “Globalicemos la lucha. Globalicemos la esperanza”. É bonito. É o mais bonito.