No dia 21 de junho de 2003, pela primeira vez, mulheres lésbicas e bissexuais ocupavam a Avenida Paulista para celebrar seu amor e também para marcar o início da Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de São Paulo com o primeiro nome de “Caminhada de Lésbicas e Simpatizantes da Cidade de São Paulo”. A Caminhada, desde então, se configurou como um ato político que representa até hoje um marco nos movimentos de reivindicação a favor dos direitos de lésbicas e bissexuais que historicamente lhes são negados por conta do sexismo, misoginia, lesbofobia e bifobia tão fortemente presente em nossa sociedade.
A Caminhada surgiu num contexto de militância bem especifico de invisibilidade política e social de lésbicas e bissexuais na época, e que, de certa forma, permanece o mesmo até hoje. Este contexto de invisibilidade é constituído e reforçado pela perpetuação dos estereótipos de gênero arraigados numa sociedade em que, antes de termos uma identidade gay ou lésbica, somos criados e nos construímos como homens e mulheres. Nesse sentido, a crença de que o espaço público, ou seja, a política, o uso da rua, etc., é caracterizado quase que exclusivamente como masculino, de direito dos homens (gays) e que às mulheres (lésbicas e bissexuais) cabe apenas ocupar o espaço privado da casa, a família, etc.
Em 2003, o grupo Umas & Outras, que estava funcionando desde 2001, através de uma lista de e-mails com troca de informações e vivencias lésbicas, começa a articular atividades culturais diversas (sarau, futebol e um espaço de reflexão do quotidiano lésbico em São Paulo); articula-se com o Movimento Lésbico de Campinas (Mo.Le.Ca) para organizar uma caminhada lésbica em São Paulo, inspirada na Marcha Lésbica do México, que tinha acontecido naquele ano, por sua vez inspirada nas dyke marches dos Estados Unidos.
A ideia inicial das mulheres que compunham a organização naquela primeira edição era construir a Caminhada dialogando com a Parada Gay, mas não se submetendo, e sim fazendo um contraponto, acontecendo sempre um dia antes da Parada, fortalecendo a organização das lésbicas na cidade através de uma ação de visibilidade política e social.
Violências agravadas
Muitas são as demandas políticas lésbicas e bissexuais, como por exemplo, na questão da saúde, compreendendo que os tratamentos e os protocolos de atendimentos médicos não atendem as necessidades das mulheres lésbicas e bissexuais. Há um profundo desconhecimento sobre a realidade de mulheres lésbicas e bissexuais, no que se diz respeito a cuidados com a saúde e a sexualidade. Além disso, pouco se fala sobre a questão da saúde mental e os impactos devastadores que a lesbofobia, o sexismo e a misoginia causam no bem-estar físico e mental de mulheres que não seguem a norma heterossexual.
A violência contra as lésbicas tem aumentando de forma aterrorizante e de todas as formas. Agressões físicas dentro dos trens da CPTM em São Paulo, execução de um casal de lésbicas na Bahia e, mais recentemente, uma estudante da UERJ foi vitima de estupro corretivo. Segundo depoimento, ela foi estuprada por outro aluno dizendo que ela “ia aprender a gostar de homem”. Triste e desesperador… A violência familiar que acontece quando pais e mães não conseguem “aceitar” e respeitar suas filhas e as expulsam, violam, humilham rejeitam… E não menos importante, a violência entre as próprias mulheres que ainda é um tabu a ser discutido. Pensamos que a violência entre casais de lésbicas não acontecem pois são duas mulheres e mulheres são mais pacificas (sic)… Assim deve ser discutido também o mito de que “a mulher não pode ser agressora”.
Apesar das grandes vitórias que o movimento lésbico feminista alcançou nos últimos anos, recentemente temos acompanhado o fortalecimento de grupos reacionários, fundamentalistas e discriminatórios que têm ocupado espaços de decisão, como o Senado e a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
Por isso, para este ano de 2013, devido este grande retrocesso das demandas do movimento, assim como o assustador avanço do fundamentalismo religioso dentro dos nossos sistemas políticos, o tema obviamente é: O Estado é laico! Construindo direitos, desconstruindo preconceitos: basta de lesbofobia! A ideia é abordar as diversas formas de negação de direitos a que são submetidas as mulheres lésbicas e bissexuais, assim como toda a população LGBT, de forma mais geral, estão enfrentando no contexto politico deste momento.
Apesar de todos os desafios, algumas desavenças no seu processo de construção e organização, a Caminhada Lésbica de São Paulo foi a precursora de todas as caminhadas e marchas que acontecem no restante do Brasil e é referencia para militantes e ativistas de outros estados.
Portanto, vamos comemorar as conquistas, celebrar o amor, mas mostrar também que somos livres e autônomas, que estamos vigilantes e não nos contentaremos com nada aquém do que nos é de direito!