Morte na Palestina ocupada e discriminação

Metalúrgico desde 1989, funcionário da Taurus há 23 anos e atuando no movimento dos trabalhadores desde 1990, o brasileiro Lírio Segalla Martins Rosa é hoje presidente do sindicato de sua categoria em Porto Alegre e diretor da Confederação Nacional dos Metalúrgicos. Em dezembro último, visitou a Palestina a convite da CUT (Central Única dos Trabalhadores), à qual a entidade que representa é filiada, e da organização Stop the Wall. Ali, pôde ver de perto o apartheid promovido por Israel e chegou a presenciar o assassinato de um jovem. Ademais, viveu a experiência de ser discriminado na fronteira com os territórios ocupados*. É o que conta nesta entrevista.

Como foi sua chegada na fronteira e sua saída? Por que acha que recebeu esse tratamento?

Minha chegada foi complicada, fiquei três horas detido pela polícia israelense para investigação, quando foram vasculhados inclusive meus e-mails .Eu acredito que tive esse tratamento pelo fato de ser negro, mas também pela política de Israel de demonstrar poder e controle sobre as pessoas que chegam ao país. O que aconteceu comigo certamente acontece com vários estrangeiros. O fundamental para mim é acharmos uma forma de divulgar para o mundo o massacre que Israel está fazendo com o povo palestino.

Quanto tempo você ficou na Palestina e o que presenciou?

Fiquei seis dias e infelizmente pude presenciar as condições de segregação em que vive o povo palestino por conta da ocupação israelense e também o assassinato de um jovem palestino de 27 anos (cometido pelo exército israelense) que participava de uma caminhada em protesto contra a ocupação.

Diante de tudo isso, qual sua impressão dessa viagem?

Fiquei muito chocado com a situação do povo palestino, principalmente com o muro da “vergonha”, e voltei convencido de que o mundo precisa fazer algo. Por outro lado, estou esperançoso pelo fato de ter percebido que, apesar de tudo, os palestinos não desistem de lutar e já estão acontecendo movimentos importantes no mundo que vão no sentido de termos uma Palestina livre.

Existe a informação de que a Taurus vem fabricando rifles israelenses. O sindicato pretende fortalecer a campanha de boicotes ao apartheid de Israel, o que incluiria ações junto a essa empresa? O que está sendo pensado nesse sentido?

A Taurus ainda não começou a fabricar as armas. Não sabemos ainda quais ações serão mais eficientes, todavia estaremos fortalecendo as ações que ajudem no boicote ao Estado de Israel. Acredito que uma ação junto ao governo brasileiro para impedir acordos militares com Israel seja uma alternativa, pois a Taurus tem interesses meramente comerciais é so vai fabricar as armas porque há um acordo entre os estados brasileiro e israelense.

Acredita que a campanha de boicotes é estratégica para cessar o apartheid de Israel?

Sim.

Como envolver os trabalhadores nessa campanha?

Para envolver os trabalhadores, é preciso que primeiramente seja divulgado o que de fato está acontecendo na Palestina. A imprensa internacional burguesa tem divulgado que Israel está combatendo o terrorismo. Infelizmente a grande parte dos trabalhadores acredita nisso. Tanto que na minha volta a Porto Alegre as pessoas me perguntavam se eu havia encontrado muitos homens bomba na Palestina. Creio que se Israel fosse um país comunista, socialista ou não fosse aliado dos EUA, certamente já teria sido ocupado pela ONU (Organização das Nações Unidas)… Temos de encontrar uma forma de divulgar a situação dos palestinos, para que o mundo saiba o que de fato acontece por lá.

* Sobre a discriminação sofrida, a CUT encaminhou informação ao governo federal, exigindo reciprocidade no tratamento.

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