No último dia do Fórum Social Mundial 2011, ocorreu a atividade promovida pelo Foro de São Paulo (FSP) junto a partidos de esquerda da África do Sul e do Senegal. Além de compartilhar a experiência da iniciativa latino-americana, o seminário deixou clara a intenção de aproximação entre a esquerda dos dois continentes.
Por la gran pátria
Valter Pomar, membro do Partido dos Trabalhadores (PT) e Secretário Executivo do FSP, resumiu o histórico do Foro. Ele acredita que sua atuação, a partir da conjuntura latinoamericana, pode ser dividida em três períodos. De 1990 (ano de fundação do FSP) a 1998, o momento era de hegemonia neoliberal – os movimentos sociais resistiram à tentativa de homogeneização e supressão das lutas sociais no continente.
A partir de 1998, o panorama se modificou: os partidos de esquerda começaram a ganhar eleições presidenciais na AL – o primeiro foi Hugo Chávez, na Venezuela; depois vieram as vitórias no Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Equador, Nicarágua e El Salvador.
“Esses governos, somados aos de Cuba, Chile, Guatemala, Honduras e República Dominicana, criaram uma situação completamente nova na AL”, aponta Pomar, sem deixar de lembrar que países importantes como México, Colômbia e Peru mantiveram governos de direita. Segundo o petista, essa mudança política se traduz em melhoria da vida do povo nos países governados pela esquerda, assim como em democratização, fortalecimento da soberania nacional e avanços na integração regional.
O terceiro momento inicia por volta de 2009. Desde esse ano a esquerda não ganhou nenhum novo governo – inclusive perdeu alguns para a direita. É o caso de Honduras, onde o processo se deu por meio de um golpe, e do Chile, via eleições. “Podemos constatar um contra-ataque da direita no continente, que conta com o apoio dos governos conservadores europeus e estadunidense”, avalia. Ele acredita que, nesse cenário de crise internacional, os EUA buscam retomar sua influência na região.
Na atual conjuntura, são três os objetivos do FSP: manter os espaços conquistados; acelerar o processo de integração regional; e obter novas vitórias. “Mas hoje está difícil avançar, a crise e a militarização geram uma instabilidade muito grande”, pondera Pomar.
A estratégia é manter a esquerda no poder nos Estados latino-americanos já governados por forças progressistas e realizar intercâmbios entre o Foro e a esquerda africana, asiática e europeia. “Intercâmbio porque as realidades são muito diferentes”, indica o secretário. Com isso, implementa-se outro objetivo: garantir a pluralidade, característica que, segundo Pomar, explica o êxito do Foro na AL.
África unida
Chris Matlhako compartilhou a experiência da ALEF
Em 1958, o primeiro-ministro de Gana Kwame Nkrumah convocou representantes de 20 Estados da África para um encontro em seu país. Ele acreditava que de nada adiantava a independência de sua nação enquanto os outros países africanos se mantivessem colonizados. Ano passado, foi a segunda vez na história que todas as regiões da África estiveram representadas para debater sua integração. O encontro foi convocado pelo Partido Comunista Sulafricano (SACP, South African Communist Party) e aconteceu em Johanesburgo, em agosto de 2010, reunindo 17 nações africanas.
“O encontro teve como objetivo debater as experiências e desafios da esquerda africana na implementação da democracia participativa, além de fortalecer a ALNEF (Africa Left Network Forum)”, explicou Chris Matlhako, integrante do SACP. Ele também é um dos coordenadores da ALNEF – o Fórum Africano da Rede de Esquerda.
Assim como Nkrumah, Mathlako defende que os avanços têm que acontecer no continente todo, ou não se sustentarão. “A ALNEF surge para reunir, além da pluralidade dos partidos de esquerda do continente, os movimentos e organizações sociais. É a nova força”, acredita.
No encontro em Johanesburgo, definiu-se que o fórum africano se reunirá anualmente. Foi criada uma secretaria e agendada para fevereiro a primeira atividade setorial: uma conferência com o tema “Mulheres na África”. Mathlako enfatiza que a ALNEF quer estreitar o diálogo com o Foro de São Paulo para fortaleçer o apoio mútuo e aproximar as lutas sociais dos dois continentes.
Fonte de pesquisa: Revista Uhuru Spirit – www.uhuruspirit.org