A #partidA é o nome que se deu a um movimento que, lançado há dois meses sob liderança da filósofa feminista Márcia Tiburi, já tem núcleos em várias cidades do país e vem causando polêmica ao pensar na criação de um partido feminista. O desejo de construir um contraponto ao estado atual do poder é o desafio a que se propõem estas mulheres. Elas estão cansadas de ser silenciadas dentro das organizações e dos partidos, de esquerda inclusive, pois são protagonistas na própria vida. Elas defendem uma poÉticA feministA como uma nova forma de pensar e estar no mundo.
O poder feminino foi esmagado durante toda a história da humanidade, por isso o mundo está em desequilíbrio e o planeta morrendo. O feminino também existe nos homens e neles também é reprimido. E o que seria esse poder feminino? A ligação com a natureza, com a vida, o cuidar do outro e do bem coletivo. No cotidiano, a maioria das mulheres enfrenta muitas dificuldades e elas decorrem das decisões políticas dos que governam. Entretanto, este aspecto da vida é despolitizado pela cultura patriarcal dominante e o trabalho das mulheres é invisibilizado, desqualificado e desvalorizado. Somem-se a isso a crescente violência contra a mulher e a permanente tentativa de controle sobre seu corpo e sua subjetividade.
As feministas foram as primeiras a dizer o quanto o pessoal é político e o quanto a política interfere na vida pessoal. O capitalismo vive nova crise e a democracia que serviu ao seu desenvolvimento mostra sua podridão em toda parte. O imperialismo, por meio de 85 famílias que detém o poder global de fato, utiliza todas as suas armas (literalmente) para continuar na exploração e controle da humanidade. A esquerda, por sua vez, precisa urgentemente reinventar-se, pois as estruturas partidárias verticais e competitivas mostraram seus desvios ideológicos e não conseguiram incorporar as questões de gênero, raça/etnia, diversidade sexual, direito ao próprio corpo, campos geradores de muita opressão exercida na sujeição das pessoas.
O feminismo mudou a forma de ver o mundo. O feminismo é revolucionário porque é contra cultura hegemônica, é cultura do afeto, das emoções, da busca de índices de felicidade, priorizados aos econômicos. O feminismo quer o bem para toda a humanidade e isso significa respeitar e incluir todas as singularidades e desenvolver suas potências. Política para nós não é essa disputa corrupta por cargos, salários, carreiras e benesses em que se transformaram os poderes de Estado, nem essa “guerra fratricida” que acontece dentro dos partidos. A #partidA surge porque não aceitamos essa forma arcaica de organização do poder político; mas sua identidade mal começou a ser construída. Sabemos que existem outros coletivos experimentando também organizar-se de maneira horizontal, colaborativa, democrática; nós acreditamos no feminismo como a ética para essa construção.
A #partidA quer dar voz a quem não tem voz. Muitas frentes de luta nos interessam, somos contra o capitalismo, o racismo, o preconceito com a diversidade sexual, o proibicionismo, o fascismo e todos os “ismos” da opressão. Queremos rodas de reflexão, criação e ação interligadas às rodas de outros movimentos. Queremos formar uma potente ciranda feminista indignada com o atual estado das coisas; queremos conter o avanço do capital e do patriarcado na sua sanha opressora e destruidora da maior parte da humanidade.
https://www.facebook.com/sigapartida?fref=ts
https://www.facebook.com/groups/apartidafeminista/
Publicado originalmente no Brasil de Fato.