MMM solidária às mulheres curdas

A Marcha Mundial das Mulheres nasceu no ano 2000 como uma grande mobilização que reuniu mulheres do mundo todo em uma campanha contra a pobreza e a violência. As ações começaram em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e terminaram em 17 de outubro, organizadas a partir do chamado “2000 razões para marchar contra a pobreza e a violência sexista”. Essa primeira ação contou com a participação de mais de 5000 grupos de 159 países e territórios. Seu encerramento mobilizou milhares de mulheres em todo o mundo. Nesta ocasião, foi entregue à Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, um documento com dezessete pontos de reivindicação, apoiado por cinco milhões de assinaturas. Essa ação foi caracterizada como um primeiro chamado de largo alcance, um passo no sentido da consolidação da MMM como movimento internacional.

A segunda ação da MMM foi em 2005, e teve como ponto de partida o 8 de março em São Paulo, que teve uma organização nacional. O ato reuniu 30 mil mulheres de 16 estados brasileiros e representações de movimentos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento de Mulheres Camponesas, Movimento de Trabalhadores Desempregados, União dos Movimentos de Moradia, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, dentre outros, além de delegadas do Québec (que na época sediava o Secretariado Internacional) e de Burkina Faso, país de encerramento dessa ação retomando um caráter de rua ao movimento feminista brasileiro.

Liberdade, Autonomia, Igualdade, Paz e Solidariedade

Estes foram os eixos da mobilização internacional das mulheres, que construíram em torno deles uma carta e bordaram uma colcha com retalhos de tantos lugares. A “Colcha da Solidariedade” foi sendo feita nos países por onde passava também a carta, unindo inclusive mulheres de países em conflito. Em 2010, mais de 3 mil mulheres de todo o Brasil abriram a 3ª Ação Internacional da MMM. Com inicio em Campinas, no dia 8 de março, as mulheres marcharam por 120km até São Paulo, onde chegaram no dia 18. Pelas paradas do caminho, muito debate, arte, rodas de conversa, descoberta de novas realidades e de novas maneiras de ser mulher. Milhares de mulheres em todo o mundo marcharam sob o lema “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!”.

Ações foram realizadas em 76 países ao redor do mundo em nível local, nacional, regional e internacional durante 220 dias, e o encerramento internacionalmente foi na República Democrática do Congo (RDC), com a leitura do “Manifesto das Mulheres pela Paz” para 20.000 pessoas na praça central de Bukavu, Kivu do Sul. Aquele manifesto retomou os valores da Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, elaborada em 2005, elemento básico para a denúncia da crescente militarização do mundo e suas causas. Também naquele ano, a MMM decidiu encerrar no Congo a ação internacional, em solidariedade com as mulheres que resistiam numa situação de conflito armado.

A militarização do mundo não parou, ao contrário, só cresce. Nova ação internacional vem sendo organizada para o ano de 2015, pelas militantes da MMM em todo o mundo. E novamente será reafirmada a luta contra a crescente militarização do mundo. Reunião no país basco decidiu que a ação internacional do próximo ano terá como tema inicial a luta das mulheres curdas, conforme declaração publicada pela organização feminista internacional.

Declaração da Marcha Mundial das Mulheres da Europa em solidariedade com as mulheres curdas em luta

Nós, 60 mulheres de 18 países europeus, reunidas em Donostia, País Basco, no encontro da Coordenação Européia da Marcha Mundial das Mulheres, saudamos a resistência das mulheres curdas de Kobane (Rojava) – na fronteira entre a Turquia e a Síria, onde se desenvolvem entre curdos, sírios, armênios, árabes, yezidies e tchechenos alternativas concretas ao capitalismo, ao colonialismo e ao sistema patriarcal, baseadas na coexistência pacífica entre diferentes religiões e na liderança partilhada democraticamente a todos os níveis. Este modelo alternativo é defendido pela valente resistência do YPG (Unidade de Proteção Popular) e YPJ (integrada pelas mulheres).

Condenamos a violação dos direitos das mulheres e dos direitos humanos fundamentais, assim como todos os tipos de fundamentalismo religioso, étnico e político. Denunciamos o aumento das alianças com os setores ultra conservadores, incluindo o fundamentalismo religioso, como uma estratégia para reforçar o modelo capitalista e patriarcal como ‘solução’ para a crise.

Continuamos com a nossa luta nas regiões em conflito para acabar com a violação e a escravidão de mulheres como arma de guerra e para construir um outro mundo onde sejam excluídas todas as formas de dominação, exploração e exclusão de uma pessoa sobre outra, de um grupo sobre outro, de uma maioria sobre uma minoria, de uma nação sobre outra.

Frente aos recentes ataques contra as alternativas e direitos das mulheres, decidimos lançar a nossa 4ª Ação Internacional no Curdistão, no dia 8 de março de 2015, com o objetivo de apoiar as mulheres curdas na sua luta pela autonomia e auto-determinação sobre os seus corpos e territórios. Convocamos todas as mulheres do mundo a participar e apoiar a Caravana Feminista Europeia para reforçar e tornar visível a resistência e as alternativas desenvolvidas pelas mulheres.

Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

Donostia (San Sebastián), País Basco, 12 de outubro de 2014.

Contato da MMM na Europa – mmmeuropa@gmail.com

We resist to live, we march to transform! 5th International Action

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