O nome dele é Antonio de Oliveira, 72 anos, mas todo mundo o conhece por ´senhor Mucura´. A primeira pergunta, é claro, o que significa, e ele logo explica – ´Ganhei esse apelido quando era criança. Mucura é um animalzinho que vive na floresta que exala um cheiro muito forte e, que quando molhado, o cabelo fica todo separado`, conta o caboclo nascido na comunidade de Jauarituba, na região do Tapajós, PA. Esse é o indício de sua história com relação à terra, que brevemente deverá virar um livro, que escreve à mão e já totaliza 236 folhas, que mistura vivências e muita pesquisa, como destaca, desde 1918…
´Desde 1965, escrevo minhas experiências de vida´, diz. E que experiência, diga-se de passagem. Oliveira conta que viveu a maior parte de sua vida em Santarém. ´Trabalhei 20 anos como agricultor. Participei 20 anos (62-82) da Catequese Rural, depois do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém (82-2005). Fui comandante em embarcação que fazia o percurso para o Amazonas e Belém´, recorda.
Mas suas experiências não pararam por aí. O agricultor, navegador, sindicalista lembra que grande parte da sua vida sobreviveu do roçado. ´Acordava 8h e voltava pelas 15h. Ah` – emenda – Também trabalhei no Movimento de Educação de Base – MEB em uma comunidade e, durante seis anos, cuidei do Programa de Desenvolvimento do Extrativismo, no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Dessa gama de experiências, ele afirma que surgiu a consciência ambiental, quando começou a fazer parte do Conselho Nacional de Seringueiros (CNS). ´Uma luta que começou em 1975, pela defesa da terra, para quem trabalha nela. Enfrentamos as grandes madeireiras. Criamos a Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. Uma luta, que começou primeiro no âmbito dos movimentos eclesiais e depois, na década de 80, passou para o movimento sindical`, explica.
Essa defesa tinha endereço certo, segundo ele. Dos rios, da terra, da floresta. ´Hoje também trabalho com a questão do lixo na cidade e no interior. ´Senhor´ Mucura trabalha em várias frentes, na Escola da Floresta, ligada ao setor de educação municipal de Santarém. ´Fazemos reflorestamento, pois a mata é secundária´. Ele ensina que há espécies regionais que precisam ser preservadas, como o cedro, jatobá, ipê, itaúba. ´Também as frutíferas, como o açaí, bacaba, castanha, pequi e uxi´.
Os trabalhos para conservação do meio ambiente o deixam realizado. ´Eu também criei meus filhos com recursos naturais, pescando… Na época, também caçava caititu e queixada e com o tempo criei consciência que tem de ser algo controlado, para o sustento´, recorda.
Não tem preço o valor da conservação da biodiversidade, na opinião dele. ´Para ganhar dinheiro, não precisamos fazer desmatamento e nem matar espécies. Através do ecoturismo podemos ter o nosso sustento´, defende.
Além de suas atividades na Escola da Floresta, ´senhor´ Mucura faz artesanato com resíduos da floresta, conta muitas histórias para a garotada da segunda fase do ensino fundamental e visitantes, que frequentam o espaço.
Aí ele dá uma respirada e lembra de mais uma passagem de suas inúmeras atribuições, em pelo o menos, seis décadas. Antes de fazer parte da Escola da Floresta, o simpático caboclo – com um pé rural e outro na área urbana – trabalhou no mesmo local, que fica em Alter do Chão, a 1h de Santarém, no Projeto Peixe-Boi (já desativado). ´Fizemos pesquisas, ouvindo histórias…Os primeiros exploradores que vieram para cá, matavam muitos exemplares, como também de jacaré e, nós, (brasileiros) seguimos essa onda, mesmo sendo nativos`. Ele lamenta o fim do trabalho de conservação, que ocorreu nos anos 2000, por questões principalmente de recursos.
E aí termina a prosa de forma amistosa – como é comum entre a comunidade local -, já que não há tempo a perder. Segue compenetrado em defesa da população ribeirinha, cabocla, dos índios, para mais uma atividade – participar de um dos paineis do V Fórum Social Pan-Amazônico, que acontece até o dia 29 de novembro, em Santarém.
Diante de toda essa vivência, agora, é esperar pelo lançamento de sua obra, que em 2011 deverá estar nas prateleiras e de mais um trabalho, que começa a todo vapor, segundo ele. ´Meu próximo livro será sobre os 12 anos da instituição das reservas extrativistas´, diz.
Fonte: Blog Cidadãos do Mundo – www.cidadaodomundo.blogse.com.br – jornalista Sucena Shkrada Resk – twitter.com/SucenaSResk