Morreu José Saramago, o homem, o escritor, laureado pelo Prémio Nobel da Literatura. Autor
que trouxe a indignação para o centro da sua escrita, que inspirou muitas outras formas de
arte, da ópera ao cinema, da dança à pintura, Saramago contribuiu para a construção de um
novo imaginário social, não apenas ibérico, mas humano, também na diversidade feminina e
masculina da humanidade.
Na sua obra, as figuras femininas são tratadas fora do estereótipo, como protagonistas,
algumas, independentes, cheias de força, negando a divisão dicotómica do mundo. De
Blimunda, em Memorial do Convento a Maria Sara, de História do Cerco de Lisboa, de Maria,
de Envangelho Segundo Jesus Cristo, à mulher do médico, de Ensaio Sobre a Cegueira, José
Saramago expandiu o universo simbólico de referências para a resistência à opressão de
dominação também de género.
Saramago apresenta as vozes das mulheres, na sua pluralidade, mas também debaixo de uma ordem de género. Escreveu “[…] não fosse falarem as mulheres umas com as outras, já os
homens teriam perdido o sentido da casa e do planeta”, “a culpa não é da lingua que fala
[Maria], senão dos homens que a inventaram, pois nela as palavras justo e piedoso,
simplesmente, não têm feminino”.
A UMAR, como associação de mulheres e feminista, sente a enorme perda deste grande
escritor, deste homem que foi capaz de se dedicar à criação e, simultaneamente, estar ao
lado e ser solidário em grandes causas humanitárias, incluindo causas feministas.
Envia, assim, um abraço solidário e feminista à sua companheira e esposa Pilar del Rio, na
sua dor, clamando que, também para as feministas, Saramago continuará vivendo na sua
obra, no legado do seu pensamento, no exemplo da sua acção.
Saramago disse, a certa altura,
“Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar.”
Até sempre,