Na luta diária das Marias, Juremas, Terezas e tantas outras não há direitos, mas muitos deveres: lavam, cozinham, cuidam da família, trabalham fora, muitas vezes apanham e permanecem caladas, sufocam a voz, sufocam suas vontades, sufocam quem são.
Ainda são poucas as que conseguem ser livres e independentes. A grande maioria vive numa luta constante marchando na busca pelos seus direitos. Quando se encontram com realidades próximas à sua perdem a vergonha e, enfim, ecoam e reivindicam o direito de ser mulher.
É assim a grande marcha feminista que percorre o trajeto de Campinas à São Paulo. São mulheres corajosas e cheias de experiências que compartilham essas histórias e conquistas diárias.
A enfermeira Maria Heloísa, 55 anos, moradora de Várzea Paulista é coordenadora do Programa de HIV Municipal. Para ela é importante estar na luta pela prevenção e afirma que as mulheres são as maiores vítimas da doença. “Já tive casos de mulheres casadas que contraíram o vírus de seus parceiros, então sempre as alerto a utilizarem o preservativo com seus companheiros”, conta ela.
Para a sergipana Maria Felix dos Santos, 54 anos, ainda existem preconceitos até entre as mulheres que não se aceitam. Ela nos conta um pouco da sua saga até superar sua condição de abandono e tornar-se uma líder: “Fui criada sem pai e sem mãe, aos 7 anos de idade vivia com a minha tia. Varri rua e trabalhei na roça, tive 7 filhos e fui abadonada pelo meu marido. No campo, entrei para a luta sindical”. Hoje coordenadora de Mulheres no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Cristovão é feliz por representar muitas do seu estado na Marcha Mundial das Mulheres, que vieram com ela, em caravana para Campinas. Maria Felix completou 54 anos no ônibus e foi um grande aniversário, com sua primeira viagem a São Paulo. Ela se sente feliz também por nunca ter sofrido nenhuma violência física como a grande maioria.
Há muito tempo mulheres são violentadas também pelo preconceito, mas aos poucos elas vão conquistando seus direitos: não podiam ler, hoje são pós graduadas, mestres e doutoras profissinais e na vida; não votavam, hoje escolhem quem as representará; não podiam trabalhar fora, hoje ainda trabalham em casa, mas fora também.
Ainda há um longo percurso para que as mulheres alcancem todos os seus direitos, mas elas, nós, todas nós, permaneceremos na caminhada e vamos até o fim.