Nós, mulheres da Amazônia, indígenas, negras, ribeirinhas, quilombolas, trabalhadoras rurais e urbanas, membros de ONG e de associações de mulheres, reunidas em roda de conversa sobre mudanças climáticas e as mulheres, promovida pelo GMEL – Grupo Mulher, Ética e Libertação e a PMM – Pastoral da Mulher Marginalizada – durante o fórum social panamazônico, no dia 26 de novembro de 2010, em Santarém – Pará, diante do que foi discutido e exposto sobre os temas, afirmamos que são os grandes projetos agrários, as grandes empresas que produzem para o capital, as hidrelétricas, mineradoras, ferrovias e hidrovias, o desmatamento desordenado provocado principalmente pelas grandes empresas e pelas madeireiras, o alto padrão de consumo, as queimadas e lagos formados por hidrelétricas, os lixos depositados em nossos rios pelas embarcações e fluxo das cidades que são os principais responsáveis pelas mudanças climáticas e sociais na vida das mulheres da Amazônia, afetando principalmente sua saúde física, moral e psicológica, prejudicando o acesso a alimentação, à terra, à moradia e ao meio ambiente saudável, impedindo o seu bem-viver, sua trajetória de emancipação e libertação, rumo a um tipo de progresso e desenvolvimento que não são o que nos pedimos.
Pelas migrações em decorrência das secas e queimadas, pela falta de alimentos em decorrência da existência de outras culturas agrárias e tipos de reflorestamentos ou florestamentos inadequados como o deserto verde do eucalipto, pelo cultivo de plantas esquisitas ao nosso bioma com a finalidade de produzir agrocombustiveis, pela mudança do clima em razão dos desmatamentos diminuem as chances de emprego e moradia para as mulheres e seus filhos e muitas tem que migrar, ficando mais vulneráveis à prostituição, ao tráfico de seres humanos, à exploração de adolescentes, às drogas e entorpecentes, à violência doméstica, ao analfabetismo e ao abandono da escola, ao trabalho escravo e à falta de água e energia, às doença s de si e de seus filhos, muitas chegando à morte prematura, inclusive por exaustão.
Entendemos que a problemática das mudanças do clima em nossa região panamazônica é principalmente uma questão de injustiça climática e sócio-ambiental às mulheres e povos que aqui vivem.
Nós, mulheres, resistimos, não nos vendemos ao mecanismo de REDD+ e REDD++, bolsa floresta e créditos de carbono e clamamos pelo resgate das dívidas climáticas e por justiça sócio-ambiental aos povos panamazônicos, à Mulher-Mãe Terra, e principalmente, às mulheres que são quem mais sofrem impactos e são responsabilizadas de administrar o sucesso ou insucesso das saídas propostas pelas políticas dos governos e empresas.
Rechaçamos as saídas como o Mecanismo de REDD – Reduções de Emissões por Desflorestamento e Devastação pelos usos da terra, bolsas floresta, créditos de carbono etc. Que tenta colocar sobre ombros das comunidades tradicionais, famílias da pequena agricultura e as mulheres a responsabilidade de esfriar a região e sofrer o ônus das mudanças climáticas.
Queremos que os grandes poluidores, desmatadores e devastadores, donos dos latifúndios, das grandes empresas transnacionais e nacionais, patrões do agronegócio e da pecuária exportadora sejam responsabilizados pela imensa dívida climática para com as mulheres, povos indígenas, tradicionais e para com as comunidades urbanas e rurais contemporâneas e do passado.
Portanto, exigimos reparações equitativas urgentes, exigimos participar dos espaços de poder e decisão, pois, queremos respirar, nadar, correr, comer; queremos viver bem felizes com nossos filhos e filhas com um clima e meio-ambiente saudável para nós, para a floresta, para nossa Mãe-Terra e todos os seus outros filhos que estão morrendo por descuido e injustiça climática como os animais nativos, nossos peixes e nossa imensa biodiversidade.
Queremos um modelo desenvolvimento mais justo do ponto de vista sócio-ambiental, do ponto de vista econômico e do ponto de vista da eqüidade de gênero, raça e etnia.
Nós mulheres esfriamos o planeta, mas queremos fazê-lo com justiça sócio-ambiental e com o resgate das dívidas climáticas, das quais somos as maiores credoras.
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