Mulheres brasileiras encerram Marcha em alto astral!

10 anos de Marcha Mundial das Mulheres (MMM) marcados com uma caminhada que ultrapassou os 100km! 100 anos do 8 de março, “comemorados de forma digna e realmente de luta!” festejou Nalu Faria, da Coordenação, no ato político de encerramento da Ação Internacional 2010 da MMM, no final da tarde desta quinta-feira, 18 de março. “Assim como as companheiras russas deram início à revolução de 1917, queremos caminhar para um processo revolucionário em nosso país!”

“No batuque do tambor (tum tum tum)
a revolta social (tum tum tum)
nós somos as mulheres (tum tum tum)
da Marcha Mundial!”

Batucavam os tambores da Fuzarca Feminista, acompanhados pelo grande coro feminino, das mais de 2 mil mulheres que chegaram à Praça Charles Miller, no Pacaembú, depois de 10 dias caminhando, convivendo, aprendendo, numa experiência única e inesquecível, conforme diversos depoimentos. Lá estavam para nos receber, representações de outros movimentos que não puderam estar na Marcha, trabalhadoras que não puderam acompanhar suas companheiras na contundente atividade. A recepçao emocionante e emocionada, se deu também na estação Barra Funda, da CPTM, por onde desembarcou o formigueiro de mulheres aqui em São Paulo – no único trecho em que não caminhou a pé, vindas da estação Osasco, última cidade por onde passou a Marcha.

“Contra a pobreza e a opressão (tum tum tum)
do capitalismo patriarcal (tum tum tum)
nós vamos provocar
uma revolução mundial!”

Fortes críticas ao modelo de exploração capitalista, sustentado pela opressão, racismo, machismo, lesbofobia, apareceram nas falas de todas aquelas mulheres, externadas por Nalu no encerramento. “Já faz mais de 30 anos que o movimento de mulheres sai às ruas para denunciar a violência contra as mulheres e a impunidade continua! O judiciário continua defendendo apenas seus interesses e os da elite. Não suportamos mais a hipocrisia em relação ao aborto!”

“Se o papa fosse mulher
O aborto seria legal!
Seria legal e seguro,
Seria legal e seguro!”

Bernardete Monteiro, coordenadora da MMM em MG, havia lembrado da dificuldade de muitas mulheres em lutar “até que todas sejamos livres”, eixo central desta ação. A maioria teve que pactuar na familia e no trabalho para se libertar por alguns dias do seu cotidiano e viver essa rica experiência. Olga, da Bahia, falou pelas mulheres indígenas; Kika Bessen, de SP, pelo movimento de mulheres negras, dedicando sua fala às que partiram recentemente. “A luta das mulheres negras seguira junto com a MMM, pois nossos direitos não estão garantidos nem aqui, nem em boa parte do mundo”.

“A violência contra a mulher,
não é o mundo que a gente quer”.

“Não sabendo que era impossível, elas foram e fizeram!”, festejou Cinthia Abreu (LBL-SP), falando sobre as reivindicações antigas das lésbicas, e sobre a diversidade presente na marcha. Mulheres guerreiras, libertárias, foram saudadas também por Etelvina Magioli, representando o MST e a Via Campesina, que lembrou a importância da segurança alimentar e a luta contra a criminalização dos movimentos sociais. Falaram ainda no encerramento outras lideranças feministas, como Fabíola, da UNE, Rosane Silva (CUT) e Carmem Foro, da Contag.

Liminar para estragar a festa

Claro que a MMM provocou a ira da burguesia de São Paulo, incluindo muitas famílias paulistas com belas casas em Valinhos e Vinhedo, por onde iniciamos a Marcha. Por todo o trajeto, recebemos saudações e aplausos; entretanto, a comissão de segurança teve muito trabalho com os carros que tentavam furar o formigueiro de mulheres, e com os xingamentos de muitos homens. Mas nada comparável ao trecho que marchamos na Av. Pacaembú, onde a violência se mostrou bem maior. Ao contrário das demais cidades, aqui não tivemos o auxílio da CET, apenas dos soldados da PM.

“Pisa ligeiro, pisa ligeiro,
Quem não pode com as mulheres
não atiça o formigueiro!”

Ao chegarmos, soubemos que a Associação Viva Pacaembú entrara com pedido na justiça, tentando impedir o ato de encerramento. A associação tem uma liminar da Justiça, desde 2005, que proíbe a realização de espetáculos e shows no estádio. Embora não se tratasse de show algum, da previsão de término ser para as 21h, os ricos moradores daquela região não queriam ouvir os discursos das feministas.

Além dos seus porta-vozes, os barões da mídia comercial, que tentaram ignorar a importante ação das mulheres, a Associação conseguiu impedir a apresentação das três cantoras que encerrariam a comemoração. Ellen Oléria, veio da Bahia para se apresentar em Várzea Paulista – onde fez tremendo sucesso – e todas queríamos ouví-la novamente. Assim como ela, Miriam Maria (SP) e Cátia de França (PB), estas mais conhecidas, são cantoras e feministas militantes, não vendidas aos esquemas comerciais. Mais um desrespeito.

“A nossa luta é todo dia
Somos mulheres e não mercadoria.
A nossa luta é por respeito
Mulher não é só bunda e peito”

Em solidariedade às mulheres do Haiti, as marchantes recolheram contribuição de todas. Foi lembrado ainda, por Nalu Faria, que a Ação 2010 continua em mais de 50 países do mundo, encerrando-se apenas em 17 de outubro, na República Democrática do Congo, na África. “Ao longo destes 10 anos”, disse ela, “temos exercitado este movimento, que existe em todos os continentes. Nossa solidariedade é com as mulheres do mundo inteiro. Enquanto houver uma única mulher oprimida seguiremos marchando!”

Alguns números da Marcha

50 mil copos de água
200 mil litros de água
5 toneladas de legumes
6 toneladas de carne
60 mulheres trabalhando no apoio
100 mulheres na cozinha
200 mulheres trabalhando na limpeza, por revezamento
46 mil quilos de bagagem transportada

Música da MMM
Loucas da Pedra Lilás (PE)

“Kapire, mosamam, mam, kapire,
El ham mosamam el ham
Kapire, mosamam, el ham (bis)

Mulheres querem um mundo mais justo
Pros filhotes crescer sem susto
Mulheres querem um mundo de paz,
Sem elite, sem capataz.

Amigas, vamos marchar
Chega de fome, pobreza e violência,
Amigas, vamos marchar
Cantando pro mundo
a nossa irreverência

É terra, para gozar
Maternidade e aborto seguros
É vida, pra navegar
E saber eleger quem respeite
A quem aqui está.
Vamos!”

Tradução:
Kapire – compreender em italiano
Mosamam – determinação em persa
El Ham – inspiração em árabe