02/02/2009
A experiência de participar, pela segunda vez, de uma edição do Fórum Social Mundial me faz pensar que não é possível sonhar com “um outro mundo possível”. Mas, sim, em muitos mundos possíveis, que se confrontarão indefinidamente, numa relação dialética e, até certo ponto, esquizofrênica. A única convergência entre tantos interesses diferenciados é que, de alguma forma, todas as centenas de milhares de pessoas que se deslocam para participar desses encontros, querem ser felizes.
Não há receita pronta para mensurar felicidade. Diria que é possível tentar traduzir alguns relatos e observações de atores, que compõem esse intrigante e, ao mesmo tempo, fascinante mosaico, ao dar voz a essas personagens. A cidadania se constrói com esse tipo de participação. E mesmo num espaço plural, percebemos que muitas vozes ainda são caladas ou ficam represadas, por causa, de uma cultura da negação do outro.
No último dia 29, o encerramento do Seminário Dez Anos Depois: Desafios e Propostas para Um Mundo Possível, do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, ressaltou esse aspecto. O interessante foi ouvir pessoas de diferentes gerações se expressando, o que demonstra que o empoderamento deve ser de todos. A juventude não pode desprezar os mais velhos e vice-versa. Esse quebra-cabeças é que enriquece o diálogo.
Assim é possível acreditar na construção de uma rede mundial, a partir do momento em que se unam as vozes do fórum de Porto Alegre, no Brasil, com as dos EUA, do Paraguai, da Palestina, de Israel e da Europa, entre outros, que ocorrerão neste ano, rumo a Dakar, no Senegal, em 2011. Há um apelo, cada vez maior, de que a justiça socioambiental e econômica saia do campo das utopias, que nos dão esperança, para as ações, que as renovam.
Entre os relatos que ouvi, selecionei o do estudante de Relações Internacionais, Pedro Borba, 21 anos, do RS, que resumiu em poucas palavras, o que é o indício dessa busca de felicidade. “É preciso que haja mais discursos propositivos do que perguntas sobre o que fazer”, disse o jovem, que também participou da edição de 2005 do FSM.
Na sua opinião, movimentos como de moradores de Cochabamba, pela o direito à água, é prova de que a ideia de bem-viver, concebida pelos povos originários, tem tudo a ver com as populações dos grandes centros. “Pensando na agenda de futuro, me preocupo com os falsos consensos quanto à hegemonia. A questão é descontruir a agenda atual. Temos de combater o aquecimento global, com a ideia de justiça climática”, diz.
Borba falou ao Blog Cidadãos do Mundo, que no FSM ainda a participação do jovem é superficial, em sua avaliação. “A mobilização juvenil nasce em outros espaços, como o de manifestações sobre quotas de direitos étnicos nas universidades. “A soma de pequenos esforços amplia a consciência. O desafio é ser um multiplicador” , afirma.
Fonte: Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk – www.twitter.com/SucenaSResk