As políticas públicas juntamente com a crise econômica forçaram os cidadãos russos a defender ativamente seus interesses. As demandas não são apenas locais, mas também européias.
Especialistas do Instituto de Globalização e Movimentos Sociais (IGSO) tiveram a oportunidade de apresentar dados relacionados ao monitoramento das atividades de protesto dos sindicatos e movimentos sociais russos nos primeiros 6 meses de 2010 e, também, os resultados da “observação participante” dos processos que ocorrem no cenário internacional (ao menos a nível europeu). O recém-celebrado 6º Fórum Social Europeu, em Istambul, neste sentido, fornece muitas questões ao debate.
Na maior parte dos conflitos sociais e trabalhistas causados pela crise, o Estado é forçado a se tornar um mediador entre os trabalhadores e patrões. “Essa mediação é situacional, casual, – diz o Diretor do IGSO Boris Kagarlitsky – As autoridades não respondem aos problemas socioeconômicos mais sérios, mas sim às ações de protesto mais agitadas e visíveis.”
Esse comportamento das autoridades gera uma experiência social bastante incomum, pois, se por um lado educa as pessoas, por outro as leva a perder a noção dos limites do possível e as desorientam no plano jurídico, legal e político.
Os cidadãos cada vez mais se valem de dois métodos básicos de defesa dos direitos trabalhistas. A primeira é a pressão, atos de desespero, ações espetaculares, que inevitavelmente atraem a atenção da imprensa. O segundo é a assistência jurídica cotidiana, onde os sindicatos alternativos tem logrado muito sucesso.
A privatização dos serviços da esfera social (habitação, educação, saúde, água, gás, telefone, aquecimento, etc) e a redução na quantidade de serviços prestados tem forçado os cidadãos russos a defender seus direitos sociais, levando a uma nova ofensiva social devido não só a uma crise econômica, mas principalmente devido às ações do Estado russo que mantém em curso as reformas neoliberais.
Um fator de consolidação dos protestos sociais se tornou a iniciativa governamental em reformar a lei federal 83, que trata das garantias sociais. Aos olhos da população, a sua adoção transformará o Estado em responsável pela crise social.
A privatização de serviços sociais não é um problema típico russo. É uma conseqüência das políticas econômicas neoliberais, cujos efeitos se fazem sentir nos países desenvolvidos da Europa. Problemas da preservação dos direitos sociais e proteção contra a destruição da educação, saúde e cultura foram discutidas ativamente no 6º Fórum Social Europeu (FSE), realizado entre os dias 01 e 04 julho em Istambul, na Turquia. Os movimentos sociais da Rússia não podem ignorar a rica experiência europeia em matéria de proteção dos direitos dos trabalhadores. A participação da delegação russa no FSE não é uma forma de turismo político, mas resultado de uma necessidade de desenvolver capacidades de luta, conhecer modelos de direitos sociais e adquirir experiências acumuladas pelo movimento social europeu – acreditam os participantes da coletiva de imprensa, apesar de sua avaliação crítica em relação aos resultados do Fórum de Istambul.
Fonte: IKD Instituto de Ações Coletivas, Moscou, Rússia