De Salvador
Camila Jasmin
Após três dias de intensos debates, reivindicações e propostas apresentadas nas 18 mesas temáticas da programação oficial e mais de 120 atividades autogestionadas promovidas em paralelo pelos movimentos sociais, o Fórum Social Mundial Temático da Bahia chegou ao fim com a sensação de “dever cumprido”. Trabalhadores do campo e cidade, jovens, mulheres e negros tiveram a oportunidade de discutir frente a frente com representantes do governo brasileiro e países da África, America Latina e Europa.
“A CTB faz um balanço positivo. Tivemos a oportunidade de realizar diversas atividades autogestionadas, que marcadamente propiciaram um espaço de protagonismo dos movimentos sociais”, comemorou o presidente da seção baiana da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, e integrante da Comissão Organizadora do FSMT-BA, Adilson Araújo. Segundo ele, o ponto alto foi a Assembléia dos Movimentos Sociais, que reuniu cerca de 300 pessoas de diversas entidades sociais, a exemplo da UNE, UBM, UJS, Unegro, CUT e MST, além da própria CTB.
O encontro, convocado pela Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais – CMS, aprovou o calendário de lutas para 2010 e sintetizou as bandeiras dos movimentos em uma carta a ser encaminhada aos governantes. Em defesa, o desenvolvimento com valorização do trabalho, o combate à desigualdade e a efetiva superação da crise econômica mundial.
O tema volta à tônica dos debates no dia 1º de junho, na Conferência Nacional da Classe Trabalhadora – Conclat, promovida por iniciativa da CTB, juntamente com as outras cinco centrais sindicais legalizadas e reconhecidas pelo Ministério do Trabalho. Segundo o secretário-geral da CTB Nacional, Pascoal Carneiro, a expectativa é de reunir 10 mil trabalhadores do Brasil todo. “A perspectiva é de elaboração de um documento de comprometimento do novo governo com a pauta dos trabalhadores”, pontuou.
Juventude e mulheres
Espaço de destaque dentro da programação do Fórum, a Tenda da Juventude contou com mesas temáticas específicas para o segmento. “Este Fórum traz a inovação de debater juventude; uma pauta que, no geral, não é muito comum nos fóruns sociais mundiais”, destacou o presidente do Conselho Estadual da Juventude – Cejuve, Juremar Oliveira.
A estimativa é de que cerca de 3 mil pessoas circularam pela Tenda armada no Passeio Público, fervilhando de idéias progressistas para a superação da crise e consolidação da soberania nacional. “Este Fórum prova que as teorias neoliberais de 10 anos atrás, quando foi realizado o primeiro Fórum Social Mundial, estão fracassadas e, na nossa perspectiva, o caminho é a valorização da soberania nacional dos países pobres e emergentes, em detrimento aos grandes conglomerados econômicos”, ressaltou Juremar.
Os impactos da crise também foram motivo de reflexão nas mesas temáticas sobre a questão da mulher. Elas protagonizaram alguns dos mais concorridos debates, como o de Mulher: Crise econômica e emancipação, promovido na abertura do Fórum, dentro da programação central. “Uma discussão sobre a questão da mulher ser colocada como uma das mesas principais que abriu os debates, com uma ampla participação de mulheres de todo o Brasil, tem um papel importante dentro da realização do Fórum”, destacou a secretária Nacional de Mulheres do PCdoB, Liège Rocha.
Já na programação paralela, a mesa A reforma eleitoral e as mulheres complementou as discussões em favor de uma plataforma coerente com os anseios de transformação da sociedade, pela garantia e ampliação dos direitos das mulheres, o combate à violência doméstica e familiar, e o rompimento da sub-representação feminina no Parlamento e demais espaços de poder. “Apesar de o Fórum ter como centro da discussão a questão da crise, também se deu ênfase à luta pela emancipação das mulheres, sinalizando a conquista do socialismo como o caminho viável para a concretização do protagonismo feminino. Tudo isso veio a contribuir com o êxito e a vitória do Fórum Social Mundial da Bahia”, destacou Liège.
Governo
Decisivo na concretização da etapa baiana do Fórum Social, o governo do estado também comemorou o saldo positivo do evento. “Acho que essa etapa da Bahia é muito importante; sobretudo, porque nós estamos ainda vivendo as consequências da crise da usura. É preciso que a sociedade discuta que modelo de desenvolvimento nós queremos: o modelo da supremacia do humano ou o modelo das questões materiais e patrimoniais?”, provocou Jaques Wagner (PT).
O governador destacou a importância do diálogo como ferramenta da democracia e mandou um recado aos críticos da parceria entre governo e movimentos sociais. “Os governos conservadores patrocinam uma reunião como a de Davos ou de banqueiros e ninguém estranha. Mas se o governo ajuda a organização do movimento social, acham que é cooptação. Essa visão precisa ser ultrapassada porque, quando se tem um governo que se identifica e se abre para o diálogo social, isso é compartilhar o poder, que é originário do povo”, arrematou.