A Mesa de Abertura sobre o balanço dos 10 anos do FSM confirmou a avaliação coletiva realizada na semana passada pelos fundadores-as e coordenadores-as dos GTs de Cultura dos FSMs desde 2001: os organizadores-as do FSM ainda não compreendem a relevância política dessa dimensão, que perpassa toda ação, reflexão e relação humana.
As reflexões políticas sobre esses 10 anos, iniciaram com seis brasileiros. Apesar de umas músicas cantadas pela moderadora da Mesa, oferecidas como intervenções improvisadas, a ausencia das contribuições das très mulheres na Mesa, nas primeiras duas horas e das presenças índigena, negra e juvenil, explicitaram a cultura política dominante da organização do FSM. O problema não é téorico, tanto que um dos convidados destacou a necessidade de ‘descolonizar nós mesmos’. O desafio é a prática do FSM: como criar e praticar uma cultura democrática, inclusiva, dialógica e transformadora?
Coube às três mulheres que encerraram a Mesa, todas de fora do Brasil, transpareceram essa lacuna, insistindo que qualquer luta oposicional ou proposicional, implica uma busca de transformação íntima cultural, na prática. A índiana questionou se a marca principal conquistada no FSM 2004 em Mumbai – a afirmação da cultura como estratégia para fazer uma política inclusiva e inovadora, foi passageira.
Mais evidentes ainda, foram as reflexões sobre as crises nos movimentos sociais e nas esquerdas: enquanto que a maioria dos homens ressaltaram a necessidade de resgatar movimentos e ações de ‘massa’, as mulheres afirmaram a necessidade de sensibilizar os movimentos, incluirem as dimensões anti-patriarcal e anti-racista nas lutas pela transformação.
Não foi simplesmente uma questão de genêro, de linguagem e de práxis. Explicitou a necessidade de uma mudança de forma, de como fazemos a política – o que os GTs de Cultura do FSM chamam de estètica e pedagogia de transformação. Desde 2001, propomos a descolonização, ampliação e integração da cultura como metodologia e aprendizagem dialógica, não como mero evento, entretenimento, ‘mística’ ou ‘dinamica’.
As cantigas intercaladas entre os discursos encantaram o público, comunicaram saberes populares, demonstraram a capacidade analítica e integradora das lingaugens artísticas e, talvez, reafirmaram a possibilidade de uma nova cultura política. A voz espontânea final de uma liderança Xoklein buscou despertar o FSM para se abrir e lembrar o potencial transformador das sabedorias e pedagogias dos povos originários. Certamente uma Mesa de Abertura cultural e provocativa!