Foto: João Zinclair
A determinação das participantes da III Ação Internacional da Marcha Mundial de Mulheres, vindas de 25 Estados brasileiros para a caminhada que começou dia 8 de Março de Campinas a São Paulo, é o que mais chamou a atenção da jornalista Terezinha Vicente, da Articulação Mulher e Mídia, que participa de toda jornada e envia notícias para a Ciranda.
São 2 mil mulheres marchando em rodovias. E raríssimas já tiveram experiência parecida. “As que já tinham participado de ações desse tipo geralmente são as companheiras do MST, mesmo assim com os pés na terra e não no asfalto fervendo”, explica.
Além do cansaço de andar horas e horas, que não é o costume da maioria, comer a comida simples possível de providenciar para tanta gente, deixando pra lá o hábito alimentar da cada uma, e ainda enfrentar locais para dormir sem nenhum conforto, as participantes se dispuseram a uma agenda de debates e atividades durante a caminhada que é quase incompatível com tanto desgaste. “E no entanto tem sido a parte mais entusiasmada: o encontro com as debatedoras convidadas, as rodas de conversa. Tudo está acontecendo”, conta Terezinha.
Ontem, em Louveira, as caminhantes conversaram com Helena Hirata. “E até agora estamos comentando os exemplos de exploração da mulher no trabalho que foram relatados nesse encontro”, diz a jornalista por telefone.
Agenda cheia e resistência
O lema deste ano é “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!”. De cidade em cidade, há debates sobre os vários temas eleitos pela MMM este ano, e as metas e direitos ainda por conquistar: autonomia econômica das mulheres, acesso aos bens comuns e serviços públicos, luta pela paz e desmilitarização e combate à violência contra a mulher.
Valinhos, Vinhedo, Louveira, Jundiaí, Várzea, Cajamar, Jordanésia, Perus e Osasco.Se uma hora a acolhida não é tão boa, como as caminhantes sentiram em Jundiaí – “parecia que gente na Prefeitura queria empurrar a marcha pra longe de lá” -, em outros momentos é o apoio de terceiros que dá força pra seguir queimando os pés no asfalto. “A Polícia Rodoviária tem sido muito atenciosa, embora não deixe a gente fazer tudo do jeito que queremos, como colocar nossos carros aqui ou ali”.
Embora 3 mil tenham feito inscrição para a jornada, boa parte escolheu dias específicos para pisar a estrada, dando uma média de 2 mil caminhantes por dia e parte destas em tempo integral. Por isso, o esquema organizativo, de apoio e de infra-estrutura está sendo crucial para o sucesso da marcha que estará neste sábado na cidade de Várzea Paulista para um show de Leci Brandão e o lançamento de um livro sobre o centenário do 8 de Março.
Terezinha explica que o modo como as mulheres procuraram se organizar para cuidar de si mesmas encoraja quem decidiu fazer o percurso todo e participar de toda agenda. “Quando voce vê aquela fila de companheiras te esperando com água e distribuindo para todas que passam, sentimos mais confiança para seguir”,
O grupo da Saúde também não tem sossego, ela diz. É o que mais sofre com a inexperiência de tantas caminhantes de primeira viagem. “Tem companheira que esquece de trazer seu remedinho diário e aí passa mal. E outras que esticam demais à noite e esquecem que o outro dia será mais difícil de aguentar”. Terezinha acredita que esse tipo de ação ajuda as mulheres não só a dar visibilidade às suas lutas – “embora a grande imprensa finja que não estamos nas ruas” -, mas também a tornar mais fortes e organizadas as práticas coletivas.
Nos dias 17 e 18, reta final da Ação, as caminhantes farão o percurso de Osasco a São Paulo. “Quero ver se a imprensa vai tratar só como problema de trânsito. Acho que os helicopteros não vao desviar das imagens, né?”, brinca a jornalista. Mas ela mira outros canais de comunicação utilizados pelo movimento social: a nossa mídia independente, essa sim, precisa estar lá a nossa espera.”