Esta quarta-feira (dia 17) é o décimo dia da 3ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil, véspera da chegada a São Paulo e do encerramento com ato público na Praça Charles Miller. Hoje, chegaram a Osasco as duas mil militantes que no dia 8 de março iniciaram em Campinas a grande caminhada de luta e formação. Elas saíram às 6h da manhã do Centro Santa Fé, em Perus, no quilômetro 26 da rodovia Anhanguera, e durante quase cinco horas marcharam 14 quilômetros.
Nos dez dias de caminhada, as militantes já percorreram um total de 108 quilômetros. Desta vez, quem puxou a Marcha foi a delegação de Minas Gerais, que inovou na mística de mobilização. Funcionando como comissão de frente, o grupo de teatro mineiro Obscenas fez uma performance em memória das mulheres brasileiras violentadas e assassinadas.
À medida que a Marcha vai se aproximando da capital paulista, centro do capitalismo brasileiro, cresce a interação crítica com seu entorno. De Perus a Osasco, as duas mil militantes, vindas de todos os estados brasileiros, passaram na frente do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) e do Centro de Distribuição do Grupo Pão de Açúcar. No primeiro, entoaram palavras e cantos de protesto contra a mercantilização do corpo das mulheres e a criminalização dos movimentos sociais, promovida pela mídia comercial brasileira. No segundo, as vaias contra o empresário Antônio Ermírio de Moraes (dono do Grupo Pão de Açúcar) tiveram como pano de fundo a luta por soberania alimentar e pelo fortalecimento da agricultura camponesa e familiar.
Nesta tarde, no Sindicato dos Metalúrgicos, local do alojamento em Osasco, a Marcha fará um debate aberto sobre “integração dos povos como alternativa e o papel do Estado”. Em pauta, uma avaliação dos avanços, limites e desafios para as políticas públicas no Brasil e em nível regional. Amanhã, às 13h, as caminhantes partem com destino ao estádio do Pacaembu, em São Paulo, na frente do qual acontecerá um grande ato público de encerramento desta Ação 2010.
Paz e desmilitarização
Ainda no Centro Santa Fé, ontem à tarde, a Marcha Mundial das Mulheres debateu paz e desmilitarização. A presença da médica cubana Aleida Guevara, filha do revolucionário cubano Che Guevara, emocionou as militantes, algumas das quais incorporaram o papel de verdadeiras tietes. “É bom estar aqui e conhecer pessoas bem preparadas para a luta, que buscam soluções para os seus problemas”, declarou a militante cubana, agradecendo a acolhida calorosa.
A maioria dos intelectuais cubanos é composta por mulheres. Elas representam, por exemplo, 63,8% dos médicos gerais e 65% dos graduados em nível superior. Em Cuba, o aborto é legalizado e a licença maternidade dura 12 meses, podendo ser dividida entre a mãe e o pai. “Eu nasci em um país socialista, onde a mulher é tratada com respeito e igualdade de direitos”, comemorou Aleida. “Não podemos dar receitas, nem dizer o que vocês precisam fazer. Mas podemos mostrar nossa realidade e dizer que, se um país pequeno e pobre como o nosso conseguiu, o Brasil também consegue”, incentivou a cubana.
Um dos itens da plataforma de reivindicações da Marcha Mundial das Mulheres é a retirada das missões militares da Organização das Nações Unidas (ONU) do Haiti e da República Democrática do Congo. “A presença militar da ONU deve ser emergencial e rápida. No Congo, as tropas já estão há dez anos, provocando inflação com os salários em dólares dos soldados. O caminho para a paz passa necessariamente pela autodeterminação das mulheres e pela soberania dos povos”, defendeu Miriam Nobre, coordenadora internacional da Marcha.