Em Belém, a presença de vários movimentos sociais, ambientais e indígenas foi marcante, dando destaque para um grupo de guerreiros Tembé, de Santa Maria do Pará, que vieram de longe demonstrar a sua solidariedade aos seus parentes do Xingu. Alan Tembé disse que “nossos parentes do Xingu não estão sozinhos. Esta luta também é nossa”.Segundo a organização do evento em Belém, cerca de 300 pessoas de todos os cantos da região metropolitana da cidade demonstraram para a sociedade, ao governo federal e às empreiteiras que não vão aceitar calados esta violação a nossa Constituição que foi o todo o processo de Belo Monte, desde as “audiências públicas” até a liberação da Licença Ambiental Provisória.
A concentração do Ato-Vigília aconteceu no Complexo Arquitetônico Nazaré (CAN), e seguiu em caminhada até a sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na avenida Conselheiro Furtado onde além das falas aconteceram místicas representando a situação das nossas águas e rituais indígenas de proteção e de enfrentamento .
Em Altamira, o Ato-Vigília em frente ao escritório do Ibama contou com a participação de 350 pessoas. Antonia Melo, do MXVS, por telefone, disse que apesar da falta de recursos financeiros para organizar as ações, os movimentos de resistência a UHE continuam firmes na luta e que prometem resistir até o fim.
Em Altamira teme-se por um confronto maior, pois há 20 anos os movimentos sociais e indígenas vêm resistindo. Enfrentaram ditadores militares e governos civis e prometem endurecer na luta. Em uma carta dos índios Kayapós, enviadas ao presidente Lula, no final do ano passado, eles alertam: “… exigimos que o governo cancele definitivamente a implementação desta hidrelétrica. Caso o governo decida iniciar as obras de Belo Monte, alertamos que haverá uma ação guerreira por parte dos Povos Indígenas do Xingu. A vida dos operários e indígenas estará em risco e o governo brasileiro será responsabilizado”.
Em Santarém, na região do Tapajós, um grupo menor, mas combativo, coordenados pela FDA, reuniu-se em frente ao escritório da Ibama. Essa pequena concentração de pessoas estavam com um carro som e algumas das pessoas falaram ao microfone aos presentes e aos passantes da orla da cidade. Alguns dos caminhantes paravam para entender o que era a concentração, outros passavam de carro e tentavam entender o motivo de as pessoas estarem ali, com uma tela de projeção de filme e alegres escutando as falas de que tinha à mão o microfone.
Quando o sol de pôs no horizonte e começou a projeção de um filme documentário mais pessoas chegaram para ver o conteúdo, que era sobre os índios do rio Xingu, manifestando indignados sua rejeição ao projeto da Eletronorte de construir uma mega hidrelétrica em Belo Monte do Xingu. Para eles, o projeto do governo federal vai destruir seu mais precioso patrimônio, o rio e a floresta de onde eles tiram sua alimentação e respeito à mãe natureza.
Aquelas pessoas queriam, ao mesmo tempo, dar um grito de alerta à sociedade santarena e do Baixo Amazonas sobre o perverso plano do governo federal de construir mais cinco hidrelétricas na bacia do rio Tapajós. O que ocorre hoje na região do Xingu é o que em breve chegará pelo Baixo Amazonas.
O que preocupa os manifestantes da vigília de ontem é que, enquanto na região do Xingu, as organizações populares e a sociedade estão organizadas e reagem firme contra os planos da Eletronorte, no Baixo Amazonas bem poucas pessoas já tomaram consciência das ameaças e se posicionam em defesa do rio Tapajós e seus povos.
Texto: Marquinho Mota, Edilberto Sena e Antonia Melo.
Foto: Cleide Magalhães