Mais de seis meses após o terremoto que destruiu o Haiti, a situação do país permanece preocupante. Milhares de haitianos e haitianas continuam em abrigos e a ajuda prometida para a reconstrução do país ainda não chegou. Além disso, a presença de tropas militares estrangeiras põe a soberania haitiana em risco. Esses serão alguns dos pontos abordados durante atividades do IV Fórum Social das Américas (FSA), que acontece de 11 a 15 de agosto em Assunção, no Paraguai.
De acordo com Sandra Quintela, socioeconomista do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), a Rede Jubileu Sul Américas preparou duas atividades sobre a situação haitiana a serem realizadas no marco do Fórum. De acordo com ela, nos dias 12 e 13 de agosto, os participantes serão convidados a refletir sobre o quadro do país após o terremoto de 12 de janeiro e sobre a relação da ocupação militar com a questão econômica.
As duas atividades têm objetivos bem precisos. Na primeira, Sandra revela que a ideia é reforçar a campanha continental de ajuda ao Haiti. “Menos de 2% dos recursos prometidos chegaram ao país”, destaca. Já na segunda, a intenção é pedir a retirada dos militares estrangeiros do território haitiano. “Sete anos que estão no país [as tropas da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti – Minustah] e nada fizeram”, considera.
A intenção, segundo ela, é “não deixar o Haiti ser esquecido” pela população mundial. A preocupação da socioeconomista não é à toa. Seis meses depois da tragédia, a realidade do país continua precária. “A sensação é que o terremoto foi ontem”, relata, com base em depoimento de uma amiga que veio recentemente do país caribenho.
De acordo com Sandra, ainda há destroços nas ruas, milhares de haitianos e haitianas continuam a viver em condições precárias em abrigos e tendas. “Com as chuvas, mulheres e crianças são obrigadas a passar a noite toda em pé porque o chão fica todo molhado”, conta, denunciando também a promoção individual de vários artistas e organizações não governamentais internacionais. “Muitas pessoas vão para lá, mas, de fato, nada acontece, a população continua nas ruas”, observa.
Situação que lembra as promessas de ajuda financeira feitas logo após a catástrofe e que ainda não chegaram ao país. “Tantas promessas e nada acontece. Por quê? A comunidade internacional não está interessada na reconstrução social”, acredita. Na opinião de Sandra, a comunidade internacional está mesmo preocupada é com a questão econômica, ou seja, na instalação de empresas, na concessão de novos empréstimos e nas privatizações, como já aconteceu com a telefonia.
“Quem, de fato, tem interesse na reconstrução soberana do Haiti? A própria população haitiana”, aponta. Para isso, apesar de todas as dificuldades, aos poucos movimentos e organizações do país tentam se reorganizar e realizar ações como assembleias populares e manifestações.
Uma dessas ações é contra as tropas militares no país, questão também destacada nas atividades do Fórum Social das Américas. De acordo com a socioeconomista, a operação militar no Haiti já vai entrar no sétimo ano e pouca coisa foi feita. “A Minustah não está nas ruas, não há a presença que esperavam”, comenta.
Exemplo disso é o que se pode observar depois do sismo. “Aumentou o número de militares após o terremoto e os destroços continuam”, afirma, destacando o alto custo para manter os militares no país. “O custo das tropas é crescente: 600, 700, 800 milhões de dólares”, ressalta.