Como parte da 3ª Ação Internacional que a MMM realiza neste ano de 2010, e com depoimentos de fortes lideranças do México, Cuba e Chile, além do Brasil, as militantes fizeram um balanço da importância da Marcha para o avanço das mulheres no continente. “A idéia é construir um campo de atuação das mulheres com visão política geral, internacionalista, e onde caibam todas as mulheres, onde nos encontremos e reconhecemos”, explica Nalu Faria, coordenadora da MMM Brasil.
A Marcha vem se construindo desde o 2º FSM, e desenvolvendo a mobilização das mulheres frente à globalização, em aliança com diversas entidades como a REMTE, a Via Campesina, a ALAI, a Fedim e outras. “Foi o primeiro movimento de mulheres construído com este caráter”, destaca a mexicana Leonor Aída Concha , da REMTE. “A formação de lideranças feministas é a coisa mais importante da Marcha, fazendo-nos crescer muito. Há mexicanas que dizem poder contar sua vida fazendo um corte antes e depois da Marcha”.
“Temos um largo caminhar até todas sermos livres”, falou Francisca Rodriguez (a Pancha), chilena da Via Campesina, “pois para isso é preciso que a humanidade seja livre”. Pancha celebra as mudanças no mundo, quando as mulheres saíram da invisibilidade no século XX. “Até dez ou quinze anos atrás parecia impossível termos um movimento global de mulheres campesinas e indígenas, e o forte movimento que construímos na AL tem na Marcha uma forte aliada estratégica; estivemos potencializando umas às outras”. Ela falou das dificuldades de se construir a paridade de gênero na Via Campesina, já que a cultura patriarcal também está nas mulheres. “As primeiras agricultoras sobre a Terra foram as mulheres, as descobridoras das sementes e assim continuamos”, lembra Pancha. “Hoje transitamos por demandas comuns, dentro da Marcha ou em aliança com ela, com objetivo de derrotar o sistema capitalista, acabar com os saques que as transnacionais fazem dos nossos recursos”.
A 4ª Conferencia Latino Americana de organizações do campo está em processo de debate, como nos informa Pancha, e as mulheres avançam na discussão ideológica, frente a crise civilizatória, o socialismo do século XXI, construíram a Agenda 21 das mulheres do campo, com campanhas pela segurança alimentar, as sementes como patrimônio popular, pelo fim da violência contra as mulheres.
Tamara Columbie, da Federação de Mulheres Cubanas, diz que a MMM impulsionou muito as mulheres a atuarem nas organizações mistas e colocar as questões feministas. Ela lembra a importante sinergia que foi estabelecida nas alianças em lutas como a da ALBA contra a Alca. “Temos ainda muito machismo em Cuba”, diz Tamara, “muitas questões específicas ainda, pois a discriminação é estrutural, apesar de ser dito por Fidel, desde a revolução, que não pode haver desenvolvimento de um país sem a participação das mulheres”.
A marcha realizada no Brasil, quando 3 mil mulheres caminharam por onze dias percorrendo dez cidades em São Paulo, foi mencionada por várias participantes como experiência impar, um grande exercício de solidariedade e muita formação. Agora, como parte da 3ª Ação Internacional da MMM, as mulheres organizam também uma manifestação na Colômbia, que se inicia logo após o FSA e vai até o dia 23 de agosto, contra a militarização, pois existe uma dimensão feminina da militarização.
“Na Colombia, a cada hora duas mulheres são violentadas sexualmente”, informa Tica Moreno, da Marcha Brasil. “Este movimento começou a ser construído pelas mulheres da Colômbia, e foram se agregando outros movimentos, inclusive mistos, pois as sete bases militares que os EUA implantaram naquele país ameaçam a todos nós”. No dia 23 de agosto, deverão ocorrer manifestações em todo o continente contra a militarização.